segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Sobre despedidas, covardia, momentos de silêncio e carinho

 1 - Despedidas

Eu confesso que não gosto e evito. Mesmo. Faço de tudo pra que não aconteça. Apego? Pode ser. Mas acho que não curto essa coisa da cerimônia. Acho que não é preciso. E não é preciso por não haver necessidade nem precisão mesmo. A coisa vai se indo embora por si só. De repente o tchau pode ser um até logo e a gente nem sabe. Ou o até logo vira um até nunca mais, who knows. Tem alguma coisa a ver com aquelas linhas que andam em paralelo, mas se cruzam no infinito, alguma coisa a ver com afinidade e as forças de atração e repulsão.

Uma vez ele me disse que gostava dos meus tchaus repentinos. E é muito engraçado como eu pude me perceber pelos seus olhos. De repente me liguei que estava a me reparar mais do que propus a me mostrar. É, lição para a control freak aqui. Sempre atenta às lições; cedo ou tarde eu aprendo. E aprendi. Agradeço mesmo.

2 - Covardia e momentos de silêncio

Não gosto. Mesmo. Nem de ser, nem de conviver com ela. Mas é claro que em alguma dose me percebo nisso. E me dói admitir. A procedência das suspeitas dói também. Apenas uso da territorialidade e do meu poder de decisão sobre o que eu quero e não quero pra mim. É simples e o corpo tá fechado. Nada passa em branco (nunca folha em branco). Ou soma, ou some. Vale o chavão.

Uma outra vez, disse pra outra pessoa: estranhe quando eu me calar. É porque não vale a pena o desgaste da fala, da explicação, da discussão, quando não vejo saída honrosa. É a minha desistência - e eu me considero muito persistente. Até demais. Cabeça dura mesmo. Pois bem. É o que é. Tem quem ache bonito, tem quem ache repulsivo.

3 - Carinho

Aprecio os gestos. Aprendendo a ser doce de novo, devagarzinho. Agradeço a paciência, a dedicação e o tato (alma, mente e corpo abertos). "Eu só posso ter chamego, com quem me faz cafuné", tals. Acho que era disso que eu precisava e por sorte o universo conspirou ao meu favor, em tempo, mais uma vez.




quinta-feira, 12 de novembro de 2015

... e também sobre as baleias!

queria star morto

voltar a ser pó de estrela, sem caminho ou destino
soprando por galáxias distantes onde não há nada além do vazio da existência.

mesmo sabendo que nossas vidas continuariam assim, frágeis e nuas
cruas mas lotadas de adereços inúteis, fantasias descartáveis de um carnaval de plástico,
num paradoxo imaturo de se refinar o que é orgânico por natureza.

porque quando olho e penso no que posso fazer
ah, sei que nada será o suficiente para mudar
o que nos faz chorar e esperar eternamente pela cura prometida.

mas talvez esperar seja um ato de resistência
em um mundo no qual fugas vorazes de falsos fulgores
nos desviam da paciência resiliente e contemplativa.

então assim, meio vivo e meio morto, faltando pedaços
que não posso encontrar em mais ninguém além de mim, eu sigo.
até quando?


Lucca Maziero, 11/11/2015, Facebook.
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Enquanto nos escapam possibilidades e estratégias de mudança, enquanto elas não se mostram factíveis, as idéias, as convicções e as vontades se tornam utopias. Guias, inspirações e todo tipo de sorte inalcançável e motivadora. Falando em cenário de copo meio cheio, claro. No cenário do copo meio vazio está o meio vivo e meio morto, procurando por aqueles pedaços, mas já sabendo que somos todos copos meio cheios e meio vazios que não podem ser completados por outros líquidos que não nós mesmos. Às vezes nos dá sede, às vezes transbordamos. E são duros esses nossos tempos de seca.

A impaciência incita o controle do tempo, como quem diz "é tudo ou nada! agora ou nunca!", mas a sapiência põe a mão no ombro e diz: as suas urgências nada significam na ordem do mundo. E a impotência volta. E todos esses "nadas" além das existências nos enlouquecem. Mas basta um lampejo, efêmero que seja (como não pode deixar de ser), na direção da utopia: é o suficiente para restaurar a "fé" (vou chamar de fé e daria um tag no Pedro se tivesse postado de fato isso como comentário) e fomentar a espera pelo que você designou de cura prometida e o choro vem como um alívio da ansiedade e da tristeza. E às vezes sentimos a necessidade de compensar toda essa agonia, ainda que nem sempre achemos como fazer isso.

Está vivo e ainda é pó de estrela. Viver pode ser a maior das resistências. Querer estar morto é ao mesmo tempo fuga feroz / falso fugor e falta de aceitação de sua própria impotência. É uma pulsão por mudança mal direcionada. É o desejo menor do que o medo da morte. É a crença de um cenário melhor impossível no agora e a descrença no cenário melhor impossível amanhã. No entanto, há algo de desejoso e persuasivo tanto na fragilidade, quanto na força; na nudez e na roupagem; na fantasia e na crueza. E talvez estejamos condicionados à pulsão e à inspiração para vivermos, organicamente falando.

A espera é apenas pela certeza da morte (é destino, mas não precisa ser caminho) e você tem a escolha de esperá-la com a paciência e contemplação de quem aguarda  algo acontecer, como quem aguarda herói salvador da pátria ou com a urgência de quem sabe que há pouco tempo e muito a se construir na direção da utopia, de que é preciso salvar a si mesmo. Com a sapiência de quem organiza seu tempo e preenche com qualidade, entre o cru e o cozido, ainda que no "paradoxo imaturo de se refinar o que é orgânico por natureza". Permanecemos com as nossas baleias.

Somos bons o suficientes para enganarmos a nós mesmos e espertos o suficiente para perceber que já estamos nos enganando.