quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Dos sentidos

Afina teus ouvidos.

Da sintonia fina
Que nos extravasa
Da morte e vida severina
E o querer sentir-se em casa

As plantas e sementes
Os cacos e ruídos
As velhas dores dormentes
As novas fumaças e fluídos

Da faísca risca
Faca corta e pica
Prepara a tua isca
Pesca, come e fica

Permanece
Ensaia a fuga e respira
Reconhece
Reconstrói a tua gira

Refina o paladar.

Vem da terra, água e ar
A vida que se propaga
Em todo alimentar
Vale o preço que se paga
A condição elementar
Da feita-coisa confinada
Mantida e cultivada
Pro prazer de degustar

Processado 
Historicizado
Mal-contado
Pouco ou muito utilizado
Vai de acordo energizar
Todos que podem falar
E rudemente dispensar
O passo a passo do pensar

Exercita teu olhar.

As formas e funções
com suas normas e grilhões
A matéria e as medidas
Destruídas, distorcidas

São camadas e camadas
Trazidas e levadas
Conforme o movimento
Interno e do vento

O ponto em que se firma
Perspectiva da tua mira
Se é denso, raso ou fundo
É preciso correr mundo








quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A única moral possível de todas as histórias

acredito ser a incansável capacidade do ser humano de ser desprezível.

Românticos diriam que há coisas lindas e tipicamente humanas...

Ná. 


A única moral possível de todas as histórias: humanos são irresponsáveis, cruéis e mesquinhos. E não entendem que seus deuses são apenas representações caricatas de suas inseguranças e carências. Se apegam a qualquer coisa para terem licença de serem (e continuarem sendo) babacas. 

Eu não sei se nada disso é natural, porém como a nossa própria idéia de natureza é socialmente construída como algo praticamente imutável, uma espécie de força avassaladora, parte de mim se esforça em tentar entendê-la para descondicioná-la. Não sei se é possível. Não sei se me é possível não tentar. E não quero biscoito. Quero não sentir vontade de gorfar.

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Lembranças: acusação descabida sobre ela ter roubado um livro (suspeita de rota de fuga), paranóia de estar sendo "zoado" em uma trama sádica, dizer que SE SOUBESSE teria feito diferente. Escrevo uma carta, sou empática, falo sobre "calos emocionais". Silêncio. Espero ter pegado no dele. Ela também, do jeito dela. Love me two times. We're gone away.


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Existe amor além da dor(?) 

Respiro fundo. Penso: todas as vezes em que ele me cansou de falar suas asneiras eu criei respostas pra elas. Ele conseguiu um equilíbrio delicado de humanidade na minha visão em que eu já espero que ele me traga uma bagagem equivocada (eu não espero que ele esteja certo) e cruel sobre as coisas, porém aprendo com isso. Aprendo porque tem verdade ali. 

Aprendi que atrás de toda dor tem outra dor e talvez não tenha havido o amor ou sensibilidade para senti-lo. É o problema da rigidez. A rigidez é triste defesa adquirida, memória muscular difícil de contornar. As dores são reais. Bate direito. A carne fica amortecida e nervosamente se fibra. Coração é carne e a carne é forte. Perdemos o medo. Enfrentamos. Perdemos o toque. Somos casca grossa. Os calos emocionais.

E qualquer coisa pode ser muita coisa.

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Meu maior medo sempre foi perder a cabeça. O descontrole sempre me pareceu inaceitável. Não aceito os meus. 

Olhando para ela e para ele, entendi que não se perde a cabeça sem correspondência com as questões emocionais. São questões, quando conseguimos formulá-las. Às vezes não conseguimos.

Pode o excesso de estímulos causar o entorpecimento do pensar? Em que medida buscamos e nos defendemos disso?

sábado, 24 de novembro de 2018

Dos conselhos que eu também preciso- o espaço para os sonhos

Falei para ela sobre os padrões inatingíveis, sobre a responsabilidade afetiva com o outro e sobre reconhecer de forma mais objetiva o que a gente representa pros outros e o que os outros representam pra gente.

Também andei conversando sobre o quanto que deixamos de viver de acordo com o que acreditamos, como isso pode ser engrandecedor e que a recompensa mais óbvia pode ser apenas o prazer do desfrute imediato, a satisfação dos meios pelos quais os fins chegaram.

Não acredito que esse caminho se afaste do outro, sabe? O original pensar sobre o futuro e uma projeção de si mesmo no tempo, com o peso da ética, da segurança de construirmos e viabilizarmos formas de sermos que queremos ser. Sabemos o valor do tempo, não sabemos? Especialmente de seu desperdício.

Nesse sentido, qual o espaço para os planos? Aqueles que brincam de forma muito íntima com nossos sonhos? Por que condicionar os sonhos ao campo da fantasia e do imaginário quando podemos trazê-los para a prática efetiva e fazer de nós mesmos donos mais satisfeitos dos nossos sonhos, planos e prazeres?


Uma vez ela me disse, com certo ar de sapiência sagitariana-espírito-livre, que de nada adiantava fazer planos porque a vida vinha e mudava tudo. Ouvi pensando que não, que os planos são importantes, sim. Pessoalmente, me motivam. Acho que se apegar muito a eles pode sim gerar essa sensação de "castelo de cartas" e acho mesmo que existe algo de muito sábio em entender o movimento das mudanças, tendo flexibilidade para não perder muito tempo sofrendo com as impossibilidades. 


"Talvez a melhor ajuda que se possa oferecer, a melhor proposta, o melhor acordo a alguém traumatizado, entediado, ou mesmo desistente, seja um plano. Talvez um plano de fuga ("vamos dar o fora daqui" haha), um plano de vida, talvez algo menos pretensioso e mais imediatamente desejoso, como plano de uma noite, de uma foda, um convite prazeroso, uma proposta pro agora, uma proposta pra depois. Estou dizendo como quem quer dizer: tudo menos a ausência de possibilidades. Talvez isso tenha alguma coisa a ver com a tal da morte dos sentimentos, a ausência de possibilidades."
sábado, 5 de setembro de 2015

A impossibilidade é algo muito difícil de ser admitido. Parecemos crianças mimadas que não aceitamos "não's" da vida. Ao mesmo tempo, é importante e admirável a persistência e a disciplina, a ousadia de se tentar ser, criar, transformar.

Daí que ele achou Guy Debord confuso. É mesmo, um pouco. 

Você sabe "o tesão tem razões que o próprio tesão desconhece". E o lance do fetiche, assim como o fetiche da mercadoria, é que ele está ligado e se manifesta em relação ao quão inatingível e distante do ser  (perante ao qual o objeto de fetiche se coloca). É uma espécie de resposta de fuga ou repúdio da realidade. Pode ser uma pessoa, um estilo de vida, uma idéia, uma coisa qualquer. Uma COISA qualquer. Acho que vale ressaltar esse aspecto da objetificação, novamente.

Vou deixar uns excertos por aqui, porque considero o que conheci das idéias do Debord  importantes, apesar de confusas:


"O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois o seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e face ao seu produto global."


"O espetáculo é uma permanente guerra do ópio para fazer aceitar a identificação dos bens às mercadorias; e da satisfação à sobrevivência, aumentando segundo as suas próprias leis. Mas se a sobrevivência consumível é algo que deve aumentar sempre, é porque ela não cessa de conter a privação. Se não há nenhum além para a sobrevivência aumentada, nenhum ponto onde ela poderia cessar o seu crescimento, é porque ela própria não está para além da privação, mas é sim a privação tornada mais rica."

"O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato de todas as mercadorias. Mas se o dinheiro dominou a sociedade enquanto representação da equivalência central, isto é, do carácter permutável dos bens múltiplos cujo uso permanecia incomparável, o espetáculo e o seu complemento moderno desenvolvido, onde a totalidade do mundo mercantil aparece em bloco como uma equivalência geral ao que o conjunto da sociedade pode ser e fazer. O espetáculo é o dinheiro que se olha somente, pois nele é já a totalidade do uso que se trocou com a totalidade da representação abstrata. O espetáculo não é somente o servidor do pseudo-uso. é já, em si próprio, o pseudo-uso da vida."

"A consciência do desejo e o desejo da consciência são identicamente este projeto que, sob a sua forma negativa, quer a abolição das classes, isto é, a posse direta pelos trabalhadores de todos os momentos da sua atividade. O seu contrário é a sociedade do espetáculo onde a mercadoria se contempla a si mesma num mundo que ela criou."



Guy Debord, A Sociedade do Espectáculo - Capitulo II

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Dica para melhor aproveitamento dos textos: se a palavra "trabalhador" incomoda seja porque faz alusão à sociedade do trabalho e da produtividade, seja porque está "fora de moda", substitua mentalmente apenas por "pessoas". No final, é o comportamento humano que interessa aqui.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O tempo das mudanças

A acidez me vem como uma resposta imediata à oleosidade. Sabemos.

Estamos saturados. Eu, cansada de brigar e apontar. Quero o conforto do silêncio. Sei do valor. Você está lendo melhor. Se viu mau negociador. Eu jogo na defensiva. Perco todas nesse jogo. A realidade não acompanha o virtual. A confiança é importante.

O tempo passou. Nos escutamos.

E, das pequenas vitórias, que bom que passamos dessas fases todas. Que venham as próximas.

Ela disse que precisamos acreditar nas mudanças. Nos outros e em nós.

Concordo. Sou testemunha e tenho grande respeito pela ordem do tempo. O meu tempo não gosta de cobrança, gosta de orientação e direcionamento. Também não gosto de pressa. Acho atrasos desrespeitosos, mas entendo que são inevitáveis, ocasionalmente.

O tempo faz sua justiça. Ou sua vingança.

domingo, 28 de outubro de 2018

Poetic justice will come in time


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Só vou deixar de ser quem eu sou morrendo e não contem com meu suicídio.
Hora de fazer a Nara ;)

Beijos históricos.

sábado, 27 de outubro de 2018

Voz masculina na minha cabeça

Sistema de merda do inferno que faz com que a voz que narre pensamentos na minha cabeça seja de um homem. 


Eu

não

autorizo

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A letra sobre sex symbol

Em busca do poder ou resistência
Escracho, vingança, negligência e violência
A foda vira campo de batalha
E para cada broxada, uma muralha
Sexo é instrumento
Arma em movimento
Entre o plano e o ensejo
O que é antítese e fonte de desejo
Mistura símbolos de ataque ou defesa
Superação e beleza na suposta natureza
Nosso corpo vira festa e fortaleza
Refletindo a vaidade: a força ou a fraqueza
Dos perigos da involuntariedade
Fome ou ansiedade
Controle e compulsão
Explosão
E liberdade

Em abjeta objetificação
Ou sublime ressignificação
Das relações, dum órgão qualquer
No ideal e no peso de ser mulher
Na culpa e no terror do ser macho
Entrepostos, acima ou abaixo

O medo ou (des)conforto
Das trocas e nos anéis
Das promessas nos papéis
Dos favores, amores
E humores
Na consistência 
ou ausência 
do gozo

A tensão  
ou atenção
quanto ao tesão


Carta-resposta: "A valsa do pau mole"

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Alerta, alerta antifascista


Em tempos de ascensão do fascismo e do ódio, meu coração anarquista luta com a dualidade da podridão humana. No fundo da boca fica o retrogosto da ilusão dos tempos de liberdade. A ignorância e os problemas de comunicação nos custam muito caro enquanto coletivo. O projeto de idiotização mostra seus resultados, de forma clara e objetiva. Pensar que somos só mais um capítulo de uma história de opressão e violência não tranquiliza - mas quem é que esteve tranquilo, não é mesmo? 

Não passarão 
Eu passarinho.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Pacientemente, eu espero

que você possa crescer e se desenvolver. Comigo ou não. Isso é amor. Eu conheço bem. 'Esperança' é o que nos faz esperar, religiosamente, coisas pelas quais secretamente torcemos, com a paixão de quem comemora a vitória de outrx como sua própria. Eu comemoro ainda vitórias passadas, inclusive a minha coleção particular de medalhas de ouro em contornar o caminho do ódio. Conheço bem esse caminho, sou guia.

Mas seu lado mais vaidoso, mais mimado, mais autocentrado me causa repulsa... você busca admiração pelas vias menos admiráveis. E você sabe disso, por isso tem uma carga de ódio contra você mesmo que brota 

na 
sua 
pele.

Te irrita. Traz inquietude e insônia. Toda vez. E você continua a agir por estímulos, a droga da obediência, do conforto, da negação e da busca infantil pela fantasia. E, do lado de cá, me sinto frouxa, fraca e permissiva. Meu casco é grosso e calejado. Quando estou protegendo, sou fortaleza e veneno. Eu peso e tento não deixar marcas tão fortes quanto as que me foram deixadas. Mas minha força criativa é bonita, inspiradora e livre. 

Eu rodo e atraio. Em superação de mim e de você.


"A minha fome é matéria que você não alcança." 


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Mutatis mutandi

Eu faço de novo - e faço melhor na próxima ;)

Pra ser bem melhor assim
Já é, pra ter tudo que quer
Sem deixar pra depois

Hit - Mahmundi

Energia renovadora

Falei para ele sobre como vamos adquirindo trejeitos das pessoas que admiramos, com naturalidade. Apesar de ter dito que a figura da musa deve morrer - por questões muito particulares da intersecção entre a arte e o patriarcado - acredito mesmo no papel da inspiração. 

Na dinâmica, falei sobre o papel da didática, da empatia e da criação de agentes de mudança ativos. Não passarão, eu passarinho. Me sinto uma versão romântica, "blowing in the wind", semeando por aí. 

A minha trajetória pessoal me fez apoiar e admirar quem tem força e vontade pra mudar. Muito embora eu tenha sido contraponto, porque também admiro e persigo disciplina e persistência. Preciso perder o medo de voar.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Not entitled

Acceptance was always a problem. And I always tought that this was part of some kind of persistence charm. If you ask her maybe she will tell you that first I was sad, and them maybe she would tell you that I kept myself very busy - and that's me assuming that she could look at me in a similar way that I could look at her. Untill I wanted to get away, set fire and never look back. Well. I don't mean to be ungreatfull. But I think I kind of am ungreatfull when I can't really appreciate what is around me. Never good enough. Sorry. The funny thing is that I am really mad at myself at the same time for not getting on my own standards. Yes, I can blame other people and I can blame myself...but I just wish I could be lighter. Happier. More satisfied. More greatfull. All that shit.

Well, that's nonsense. I'd have to be another person.


All the sad and the fucked up things
In a great art exhibition - come and see
My own personal collection of sorrow

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Assim como não vai, não vem

Sonhei com ele - e com aquela sensação de que a minha vida poderia ser completamente outra. Se eu fosse capaz de ser ou de estar de outra forma qualquer (e parte de mim acredita que sou). Capaz de sentir e degustar outra coisa qualquer. E dói o que a gente não quer deixar, por motivos quaisquer. 

E naquele revirar de memórias eu me pergunto quantos não's ainda me cabem. Se as mudanças não ocorrem por teimosia. As minhas teimosias estão por todos os lados. Remota ou histericamente. É um violão sem traste jogado num canto da sala ao qual jamais me dediquei ou pretendo me dedicar. É coisa pouca e é coisa muita.

Penso que há de acontecer. Tudo sempre pareceu conspirar à meu favor. E me pego nas perguntas sobre os meus erros e os meus confortos, repetidamente. E me pego nas perguntas sobre as minhas "esperanças" todas, impaciente e ansiosa, com os dentes amarelados do tempo que se compra com um tabaco ou mais mil goles amargos de café. Ainda que conservada pelo álcool e pelas pequenas doçuras.

E o tempo não deixa de passar, as pessoas e as coisas não deixam de existir.
Até que deixam.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Crônicas da neurose


Sobre assumir a responsabilidade

Lembrança n1


Me lembro de ter um desejo muito forte de protegê-la.Ela deixava de ir às sessões e passava as tardes comigo, muitas vezes quieta, apenas deitada ou se ocupando de observar árvores, nuvens e coisas assim. Passei a levá-la até lá, não me lembro se entrando logo de cara, mas cheguei a entrar na sala de espera. Salas de espera, acho que ela se mudou algumas vezes, se não me falha a memória. 

Eu me preocupava genuinamente com a possibilidade da tal profissional estar 'fodendo com a mente dela' com alguma merda homofóbica. Ela era menina e a mãe a pôs na terapia simplesmente assumindo que 'não sabia lidar'. Queria marcar território, dizer que tinha alguém ali para defendê-la, que se importava se aquilo de fato faria bem a ela e estava disposta a assumir responsabilidade. Estava acostumada a assumir responsabilidade e talvez não me desse conta de que me enxergavam apenas como a menina que eu era. Ainda acho que foi e que é importante.

Lembrança n2

Meus daddy issues. Ficar esperando o dia todo, na data combinada. As reclamações dele quando eu queria 'trocar de final de semana' para fazer alguma outra coisa. Acho que ele começou a tentar me dar o troco muito cedo. Doía nele e ele queria que doesse em mim. Acho que sempre foi assim. Era um combinado de merda no ventilador diretamente apontado para mim. Lembro da tia Neide falando sobre ele ser assim mesmo, que eu não deveria me importar. Por muito tempo eu odiei me importar - e sinto os reflexos do 'nem todo homem' até hoje.

Lembrança n3

Disse para ele sobre as minhas compulsões, como quem esperava que ele entendesse. Disse muitas coisas, como quem esperava que ele entendesse. Eu não sei o que há em você que não veio de mim. Tem muita projeção nessa energia maluca. Talvez eu esteja certa sobre as similaridades e acho só triste. Pra você e para mim também. Dói em mim a sua insuficiência também e a minha indisponibilidade em níveis diferentes, ainda que já tenhamos passado desse ponto.

Lembrança n4

Bigodes estúpidos e nomes latinos me lembrando que sou obsessiva.

Lembrança n5

'Ansiedade e procrastinação, sei', ele disse. Não me agradeça pelo interesse em ajudar, desconfie das minhas boas intenções. Tome ciência da conseqüência das suas ações, no fundo você sabe melhor. Eu espero que você saiba melhor. Eu espero que eu saiba melhor também.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Onde acaba a dor e começa o amor?

Tudo tem seu tempo, minha mãe sempre diz. Não que eu creia em palavras de ordem, acho que a vida é caos e harmonia, naturalmente. Mas a vida se prova indubitavelmente finita - é refém do tempo - e, muitas vezes, se mostra indomável, violenta e feroz. Estamos sensíveis a toda intensidade que nela possa haver. Que sejamos sábios e domemos o que estiver ao nosso alcance. Amor e dor, simultaneamente.


Existe amor depois do amor
Resiste o amor depois do horror
Até o amor ser bom ele é tão ruim
Tão ruim

Teu corpo aqui do meu lado
Maior que o meu cobertor
Não é um monstro que eu acho

É salvador
É meu salvador
Salvador
É meu salvador

Letrux - Amoruim

quarta-feira, 18 de julho de 2018

As partes

Disse para ele que considerava uma fraqueza ter sentimentos (que não o desprezo ou a raiva) por homens quaisqueres. Tinha raiva de identificar sentimentos em mim também. Disse para ouvir sem se ofender pessoalmente. Sei que é sexista. Disse que deveria ter permanecido sapatão. "Sapatão é resistência antipatriarcal", vem a voz dela na minha cabeça, recitando.

E todas aquelas bobagens no covil terapêutico me fizeram pensar sobre o ressentimento de ter uma vida arruinada ou conseqüências ruins por conta de um homem babaca e sua própria bagagem de merda emocional repassada adiante. Difícil medir o exagero, quando se trata de sentimentos. Mas mais difícil foi matar a imagem imaculada da mulher - eu reconhecia a santa nos outros, mas não em mim. Eu ressentia os efeitos da mulher ressentida também. Ai, as dívidas históricas.

Onde acaba a dor e começa o amor?

Falei para eles da diferença entre ser assertiva e ser violenta, como se estivesse educando sobre o final do ciclo da violência. É difícil. Quero acreditar nessa possibilidade. Preciso acreditar nessa possibilidade. 

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Orgulho e vingança - que ela chama de auto-respeito

Sou uma péssima atriz. Tinha falado para ele sobre aquela jaqueta vermelha que via constantemente na volta do trabalho pra casa. Ele me disse para comprar. Serviu perfeitamente àquele dia. A jaqueta também. Arrogante, com o forro animalesco. "Cabeça erguida", a voz dela me dizia. Irritantemente ela chorava e estava sem postura. Ela nunca teve postura. Passou por tudo como se fosse frágil. Como se forjasse culpa e arrependimento. Não suporto a atuação. Mas fiz meu papel de superada. 

Fiz escolhas ruins para fugir da minha contradição.

Eu já deveria ter aprendido a não entrar em contradição. 

sábado, 16 de junho de 2018

Sobre árvores e pássaros

Ela me perguntou uma vez sobre preferir ser árvore ou pássaro. 

O meu entendimento me levou a pensar que isso significava uma espécie de estado de espírito dividido entre criar raízes permanentes ou escolher a autonomia e liberdade. Deve ter mais coisa do que isso nessa pergunta, mas parece uma dualidade difícil e desconfortável. Espero que seja uma falsa dualidade, na verdade, rs. E aí que ele me mandou um treco assim pra olhar, dizendo que não se sentia totalmente alinhado com essa idéia. Pois bem, segura aí que vem textão.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

> Parte 1: Em memória, as histórias que ouvi

Minha avó materna "falava" com passarinhos. Eu me lembro de passear com ela na rua e que ela gostava de imitar os pássaros por aí, assobiando. Eles respondiam. Minha irmã se interessou por isso mais do que eu, virou tatuagem na perna. Meu avô materno também gostava de passarinho. Aprendi a assobiar cedo, por influência deles. Gosto da idéia de conversar com passarinhos, mas tinha uma imagem nada romântica na casa dos meus avós de mulheres servis de pele escura e gaiolas barulhentas no quintal do apartamento. Acho que isso diz muito sobre a distorção da imagem causada pelo avanço da sensibilidade. Coisas que nos forçamos a criar afeto e sentir um certo romantismo, porém algo dentro de nós fica desconfortável, sentimos esquisito.

Minha avó "Santinha", a mulher que criou meu pai, por outro lado, nunca se adeqüou muito bem a conviver com bichos. Ela nunca se casou. Acho que morreu virgem, porque pregava muito catolicismo. Ela teve um papagaio que vivia fugindo da gaiola. Ela queria deixá-lo solto e entendeu que não podia prendê-lo, em algum momento. Não sei como ela absorveu essa informação, muita gente sente que querer liberdade não é uma resposta para uma infelicidade condicional, mas leva pro pessoal, como se a questão fosse sobre a própria insuficiência de fazer o outro ser feliz. Como se espantasse tudo pelo que cria afeto. 

Gostaria de ter conversado com ela sobre isso. Sempre penso que gostaria de ter conversado com ela mais sobre as coisas. Enfim, era difícil. Ela gostava muito de dizer a regra da vida dos outros, por essa questão de precisar manter a imagem de católica, sob a pena de ser julgada por suas escolhas de vida. Parte de mim romantiza e acha que a parte Santinha era só um disfarce e que havia coisas mais interessantes ali. Ela acolheu um casal de gatos por um tempo que chamou de "Duque" e "Duquesa" e também teve aquário na sala. Quando o peixe morreu ela ficou triste. Não entendi o negócio do peixe porque ela comia peixe, mas não discuti. Gostava de alimentar e olhar o peixe, mas sentia esquisito.


O irmão dela, pai do meu pai, casou três vezes. Na primeira vez, foi casamento arranjado, com uma menina de 15 anos, em algum lugar do nordeste. A gente imagina muita coisa, mas disseram que a família veio "fugida" para São Paulo. Ela, a mãe biológica do meu pai, fugiu e "abandonou" meu pai. Ele sofre muito com a dualidade entre a puta e a santa, porque acho que dói muito o abandono, mas pela relação que teve com o próprio pai, ele deve ter capacidade de entender o grau de violência e algo sobre ausência de afeto e amor. Será que ele sabe sobre estupro marital? Acho que eu preciso conversar com ele sobre isso, talvez traga um desfecho emocional diferente para ele entender a trajetória da violência.

A gente ouve muitas histórias e vive um pedacinho do que absorvemos da história dos outros, quando estamos sensíveis a isso. Todos nós temos as nossas incoerências e alguma dose do que estamos dispostos a aceitar, mas que em outro momento pode parecer absurdo e inaceitável, até pra nós mesmas. Essa música me marcou muito, pelo tratamento dos desprazeres, sensação de afogamento. Me incomodo profundamente com a idéia de morrer como decoração das casas.

> Parte 2: Os aprendizados e as vivências mais próximas

Sempre me lembro da casa dele, que tem aquele imã com uma tirinha meio zueira, respondendo a essa idéia da liberdade no discurso, mas o sentimento de propriedade na prática. O último quadro diz "Volta aqui, fxdxp" depois de uma bela fala sobre amor e liberdade. É difícil mesmo. A gente foi ensinado para TER de um jeito muito particular, quando se trata de pessoas.

Quando me separei dela, repeti pra mim e para o mundo o mantra de que "quando a gente ama as pessoas, a gente quer que elas sejam felizes, independentemente da gente". Eu acredito nisso e tento mesmo praticar, muito embora a sensação de insuficiência seja um fantasma. É sempre uma questão vaidosa sobre as nossas insuficiências e um arranjo maluco sobre a real necessidade e benefício dos vínculos afetivos. E eu passei pela idéia de que somos laranjas inteiras, copos cheios, etc. 

Quando rolou esse papo sobre buscar liberdade com a mãe dela, senti estranho. Tinha a ver com sair da casa dos pais, desejo por autonomia e independência, crescimento e experiências novas. Ela achava que ela tinha feito algo de errado e sentia culpa pelo fato de que a filha queria ir embora. Eu, honestamente, não entendi muito bem. Achei bizarro. Não é um processo natural o da independência?


EDIT: Pausa para o sofrimento com o ódio às mulheres no humor. Onde se lê "filho da puta", substituir por "NÃO PASSARÃO". 

Falando em "natureza", acho curioso como esse negócio da dependência e das situações abusivas está intimamente ligado à uma insatisfação pessoal e uma projeção na vida do outro. Para as mulheres, acredito que isso é particularmente forte porque vamos lá, se as mulheres eram obrigadas à casar, não podiam trabalhar, votar, etc, só lhes restava viver a vida de outras pessoas, não é mesmo? Cara, é impressionante como o problema clássico da psicologia sobre a relação com a mãe não conseguiu entender nada sobre o real problema da mãe! 

Já parou pra tentar entender por que sua mãe te sufoca? Será que ela se sente sufocada? Por que a mãe dela não conseguia entender a vontade de liberdade como algo natural e empoderador, prazeroso, mas como uma situação de fuga ou repulsão? Diz muito sobre como ela se sentia com a própria família, com o marido! E por que será que quando o filho homem e mais velho saiu de casa, para casar, não houve a mesma comoção? Bom, aos olhos de uma adolescente lésbica, tudo me soou absurdo e me pegava pessoalmente pela questão da aceitação e do reconhecimento, mas tive lampejos dessas coisas que estou escrevendo hoje. Constato que foram muitos gritos de socorro desta mulher, gostaria de ter sido mais efetiva nas minhas palavras e nas minhas ações. 

Casar, às vezes, pode ser um passe livre de uma situação ruim também e pode ser o desejo de uma situação melhor, independentemente da situação anterior. Digo "passe livre" porque tem esse aspecto das expectativas sociais sobre o que se deve fazer na vida. E família, casamento, filhos, relacionamentos em geral têm esse peso.

Outra coisa sobre as mães é que, nesse processo de projeção sobre a vida do outro, elas vêem uma esperança de vida melhor para elas mesmas. Estou infeliz, vou ter filhos para ver se melhora. Esquisito. Acho equivocado todo o romantismo sobre maternidade e estou com a minha irmã quando ela disse que pode ser algo muito egoísta, ao contrário do que a dedicação ao outro pareça exigir. 

E assim são os relacionamentos todos: obrigatoriedade dos laços, status social, cumprimento de papéis, propriedade sobre o outro, projeção dos desejos e medos, dor e delícia. Acho muito importante se perguntar o porquê das dores e das delícias. Uma amiga falou sobre relacionamentos abusivos e o perigo de se anular não percebendo. Às vezes você está sendo refém dos seus desejos, acho que vale considerar a hipótese, mesmo com o risco da gente cair numa auto-censura. Por quê queremos o que queremos mesmo? Enigma resolvido do vício de ser incendiária. É um exercício legal tentar se entender.



Salve, Renata. Assistir versão legendada aqui:https://www.youtube.com/watch?v=DArFXiuNE3U

Enfim, voltando: normalmente que está categorizado como "natural", passa batido aos nossos olhos, como se estivesse tudo em seu lugar - disse para ele. E quando a gente olha pra natureza, o que mais observamos é a diversidade das formas, penso. Quando eu estava no relacionamento com ela, pude ter a liberdade de tentar fazer tudo do jeito que achávamos melhor, porque estar com ela já era um constante questionamento interno e externo sobre como se relacionar com alguém. E a gente queria que fosse ótimo, a gente se esforçou pra que fosse ótimo. Discutimos, sonhamos e experimentamos bastante: acertos, erros e muito aprendizado. Gosto de viver a diversidade e espero vaidosamente não caber numa fórmula pré-concebida. Que haja espaço pra novidade.

> Parte 3: Prazos de validade indeterminados & pesquisa de satisfação

Eu também acredito que essa perspectiva do amor mais livre traz uma noção entre ser e estar muito diferentes (salve, Angélica). 
Quando a gente é "algo de alguém" existe uma questão muito forte de identidade e papéis socialmente estabelecidos. Bom, não preciso mencionar a questão do sobrenome do homem permanecer na cultura brasileira, estou carregada de argumentos feministas, mas queria tratar o assunto sobre outra ótica que não o da propriedade sobre o corpo dos mulheres. A propriedade, por si só, é um ponto importante aqui. E quando "estamos", aceitamos a volatilidade da matéria, a permanência se torna facultativa e estamos em constante processo de aprovação. Menos segurança, maior liberdade - aquela equaçãozinha filosófica do mestre B. 

Uma outra amiga tentou me convencer sob a ótica da refeição. A idéia era de que se quando a pessoa com quem você se relaciona é "suficiente", não sobra espaço para outras pessoas, para outros desejos. Concordo parcialmente. Parte de mim quer romantizar e pensar que refeições são ótimas analogias a relacionamentos, porque se você come bem, quer comer de novo. Se come pouco, e é bom, até quer comer de novo, mas eventualmente fica meio fulo da vida com a relação custo-benefício. E se você come demais, fica estufado pensando na sua própria gula.

Brincadeiras à parte, verifico a experiência de me sentir vinculada a ponto de não buscar e não abrir "brexas", mas percebe o quanto isso pode ser também sufocante? Eu até entendo a crítica contra a inércia, a balança constante do equilíbrio dos relacionamentos que os fazem valer "a pena" (da restrição da liberdade?), mas pera lá. Em que medida não caímos na questão de que precisamos da vida do outro para fazer a nossa melhor? Isso me assusta um pouco, ao mesmo tempo que uma lógica de estar sempre aberto a novas oportunidades de negócio e parceria também me parece demasiadamente fria e utilitarista. Até que a morte nos separe pode ser confortante ou desesperador, assim como até que a vontade deixe de existir.

Pássaros cantam, fazem ninhos, voam e migram - ou não. Plantas criam raízes - ou não, ficam e duram por gerações - ou não. Lembrando das aulinhas de biologia, lembro algo sobre na cadeia alimentar os pássaros serem consumidores primários e as árvores serem consideradas produtoras, pois produzem alimentos para outros e para elas mesmas (ainda que precisem do SOL para fazer fotossíntese). Acho uma grande bobagem essas construções de regras gerais sobre as operações da natureza. São tantas possibilidades! Ambos, pássaros e árvores, disseminam sementes para novas plantas - ou não. Árvores e pássaros precisam um do outro (ou não) e de condições favoráveis para se desenvolverem.

No final das contas, o que eu mais quero é querer. E pelos motivos certos. Acho que pra amar tem que querer também, senão sente esquisito. Parece confuso? Rs. Pensei nisso quando estive em Pardinho. Tinha uma vista bonita com uma gaiola aberta, com comida e água dentro. Entre se quiser, passeie quando queira, volte se interessar. Não gosto nem de portas e nem de gaiolas, mas se a existência delas não é facultativa, que possa haver condições de permanecerem tranquilamente abertas. 



"Nascer, crescer e morrer
Este é o jogo da vida
Só que ele não é tão simples assim
Antes disso eu quero um carro, 
Um monte de contas pra pagar
Porque só consumindo com um cartão de crédito 
é que eu vou conseguir me realizar"  
Discarga - Jogo da vida

Disse para ele sobre a esperança de que tudo possa ser melhor.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Perseguindo ideais

Natalia, você é o absurdo, ele me disse, uma vez. E houve quem concordasse, à época. Hoje ouvi que preciso me adeqüar, que desse jeito não dá. Que estou a perseguir coisas muito ideais. Sim, não acho que estou perseguindo qualquer coisa material. E que tipo de coisas que não são ideais, ora essa?

Se eu estivesse nadando de fato contra a corrente, quanto tempo demoraria até a exaustão? Sinto que preciso perder a consciência para parar de me debater. Todo esse exercício me cansa. E eu odeio teatro. Não quero fazer nada para me odiar, quero ser gentil comigo mesma, ainda que o mundo insista para que eu deixe de lado meu bom juízo. Meu desejo de justiça. Meu compromisso com o que acredito.


Hoje ela me perguntou se eu realmente queria pedir algo para os tais guias espirituais, pois falei para ela me dar uma dica, em tom jocoso. Não gosto de me sentir só. Ela não gosta que duvide das certezas dela. Eu acho que eu também não. 

Ai, os ais. Estou que não [me] caibo.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

About our steps

We were holding hands, and I don't know why I was running a little bit. Something inside me calls for a better use of my time and I do feel like I have somewhere to go, but I really can't find where I'm heading to.

There is a revolution inside me, I hope you can understand - luckily you can relate to that. My life is moving, but I'm still here. Waiting for that ride for the gettaway. But in that scenario I always come back. I want so bad to go and stay at the same time.



and opposition keeps stretching me.
[Pendu / Danse]


Resultado de imagem para danse pendu

terça-feira, 5 de junho de 2018

Fear and delight



Eu me lembrei daquela noite fria e desonesta. Senti um desconforto que não senti antes.

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Pensei nos problemas dela. Acho que aquele conselho para não se sabotar (mas se superar) não faz muito sentido, no final das contas. A gente precisa se superar pra não se sabotar muitas vezes. E tem sempre muito mais acontecendo do que a gente mesmo, certo? É sempre delicado esse equilíbrio entre o quanto que a gente tem condições de se dedicar ao outro e quanto que o outro pode se dedicar à gente.

Tenho me sentido com sorte. Gostaria que não viessem esses rebotes de que se as coisas estão dando certo é porque estão compensando alguma coisa ou é porque não estou querendo ver o problema. Tem algo no conforto que sempre me põe em estado de alerta. E me diz que eu não mereço as coisas. Nem as boas, nem as ruins.

Disse que estava aberta para negociar. Acho que o presente é claramente uma prova disso. Mas e o futuro? Tenho me questionado sobre o uso da vida ou do tempo, como alguém que espera uma associação direta entre o que se dá e o que se recebe. Não quero me segurar em nada, mas às vezes precisamos mesmo de uma mão.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Labirintite

(1) Hábito agudo de se perder em labirintos. Talvez dentro de si. Me lembrou a brisa da dança desgovernada, de querer conduzir e rodar o outro ou a outra até ficar tonto. Já ser meio tonta.

(2) Paixão pejorativa por laboratórios. Como se tudo fosse experiência. E me disseram que talvez seja um problema a ausência de cobaias voluntárias. É realmente preocupante a involuntariedade das cobaias. Especialmente mediante a ciência.

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Em: Ressignificações antrosociopolíticas do saber sobre as patologias. Metafísica da saúde, s/n.

domingo, 20 de maio de 2018

A coisa certa

Por muito tempo, estive preocupada em fazer a coisa certa. 
A coisa certa.
Como uma entidade própria, que anda por aí, com seus discípulos. Logo eu, que entendo mais sobre poder e representação do que sobre devoção. Será?
A coisa certa.

E, como uma reflexão de domingo, me pergunto onde está o dispositivo que me faz querer a tal da coisa certa? Quando é que o desejo se desvincula e age como auto-compensação egoísta de um mal causado por outros egoístas? Como o troco que me resta. O que não é egoísta, afinal, na vaidade de se querer "certo"?

Ele disse algo sobre barco sem capitão. E eu no dilema do mar me navegando, eu navegando pelo mar. Das entidades, a minha fica em água doce. Mas eu não tenho fé e é sempre bom lembrar. Desesperadamente me ocupo em ordenar os pensamentos, os desejos. Me pulsa a vontade de tacar fogo em tudo, de sair por aí para ver novas vistas. E um enorme desejo de comprovação da sorte. Essa da qual me esqueço e não deveria abrir mão.

Não. Sim. Talvez. Qualquer coisa. (Que seja certa!)

Eu sinto
ausências

um pouco

das certezas

e outro pouco

dos desejos.

Hoje eu sei o que há em você que não veio de mim. E o que há em mim que não veio de você. Vou me apegar a essas respostas, por enquanto.

sábado, 12 de maio de 2018

The woman in me / don't fade away


A imagem pode conter: texto


Dos exemplos vários
Da descrença generalizada
Do vício de ser incendiária
Do desejo de ir e vir e da vontade de ficar

Fica
O meu lado kamikaze
O respeito pelo tempo
A dependência anestésica

Vai
Ter a certeza do fim
E a certeza do agora
E de tudo duvidar


sexta-feira, 27 de abril de 2018

A empreitada do barulho, pt.1

Precisamos conversar

As 
palavras duras, ditas em língua nativa
nem
turvas
nem
puras

Mas 
não tem muito a ver com o bom português
têm 
razão
têm
emoção

Então
não quero me estender
e nem desviar
O ponto é que
precisamos conversar.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Pasta

E conforme o tempo foi passando, o calor foi aquecendo, a água hidratando, entre outros processos mais, aquela massa voltou a amolecer.

domingo, 15 de abril de 2018

Os não lugares e as coisas fora do prazo de validade

Ela me perguntou sobre minhas mágoas e rancores - acho que num processo de renovar suas energias e tentar se livrar de suas próprias, tendo em vista o momento que se vivia. Desconversei, pensando numa conversa que já havíamos tido nesse sentido. Ela, sentada e fumando, insistiu.

Eu, com a mesinha nova de ponta-cabeça, apertando os parafusos sobre o tampo, respirei fundo.

Estive respirando fundo por todos esses dias, na verdade. Deixei o tabaco em casa. Precisava deixar coisas para estar aqui nesse momento, sentia.

Bom, falei. Lembrei do princípio de infarto dele, quando falei para ele também. Mas aqui não teve tanta raiva porque o tom não foi provocativo, penso. Porém, não há sutileza no palavreado que disfarce a natureza tóxica das coisas. Não guardo rancor porque sei que são coisas da vida. Sinto assimetria. Tentei suavizar de todas as formas. Sempre tentei respeitar muito as dores deles.

Ela me pediu explicações e exemplos. Ela repetiu comportamentos e me ajudou na argumentação com mais exemplos e demonstrações. Quem sabe, faz ao vivo - pensei agora. Disse que não havia muita participação na minha vida, que constato menosprezo de sentimentos e cobranças indevidas. Disse que não sentia a recíproca verdadeira com nenhum deles. Disse que sua depressão também havia me custado muito e a relembrei que vivi junto todas as dores dela em meu tempo de convivência. Quando se tratava das minhas, ou eu escolhi viver sozinha por assumir que eles não precisavam de mais problemas ou entao ela mesma tratou de ignorar os pedidos de ajuda e literalmente mandou que me virasse sozinha.

Sozinha. Sim. Há um ponto em que se é preciso dosar o discurso de sucesso sobre independência e a autonomia.

Consegui que ela escutasse. É duro quebrar a vaidade e a autodefesa dos outros. Disse coisas que acho que ela não sabia. Achei que ela soubesse, mas ignorasse. Parte de mim sempre considerou que ambos, além de depressivos, magoados e rancorosos, sempre escolheram olhar muito para si e ignorar os sentimentos dos outros.

E aí que doeu nela, né? Não dói pra quem fala, dói pra quem escuta. Expliquei acho que bem explicadinho. Ela foi chorar no banheiro, sentiu vergonha. Para ela é terrível quando se prova o erro dela. Falou em negligência, soluçando. Fiquei sem jeito, fazia tempo que não me ocorria nada parecido com aquilo tudo. Expliquei pra psicológa que tava tudo bem, mas a diferença era que ela era minha mãe e eu era filha, especialmente quando era criança. Queria dizer que a cultura do "engole o choro" também foi uma merda, mas dosei.

Aos vinte oito anos de idade. Sempre foram maiores abandonados. Não quero, tomara que não. Tenho muito (muito) medo da hereditariedade e da reprodução de valores sem filtro da crítica. E eu sei que o mundo é bem maior do que eu, mas entende? Achei importante. São 05:07 da manhã de domingo.

terça-feira, 3 de abril de 2018

As memórias dele

Um dia ela me perguntou sobre ele, como quem quisesse justificar para si mesma de que o universo havia entrado em sua nova ordem cósmica, de forma perfeitamente previsível. Tenho cagaço do cosmo, lembrando aqui. Me incomodava profundamente a idéia de que havia algum tipo de "lição" naquela história toda, especialmente pela culpa que me assolava por saber desse meu comportamento viciado em rotas de fuga no esquema autocompensação (dor pelo prazer).

Lembro que ele não se achava inteligente o bastante. E eu gostava de me aproveitar disso. Um pouco, não muito. Era uma inversão de ordem da impressão primeira. Ele dizia que eu tinha a língua bifurcada. Ele sempre achou que eu estava sendo cruel com ele, mas, no fundo, acho que ele sabia que havia algo de cruel e compensatório também nele mesmo. Eu elogiava seu sorriso sinceramente. Estava interessada nele. Havia algo de interessante acontecendo em mim também e foi inevitável investigar.

Mas eu acho que a gente entrou numa guerra para ver quem cedia primeiro aos caprichos um do outro. Pedi pra ele parar, por favor. E eu também acho que foi por conta do abalo sísmico que voltei a pensar nisso tudo. Sabe como é... a gente sente coisas fortes e esquisitas que a gente não sabe de onde vem, de vez em quando. 


Homens fazem isso (sim, estou sendo sexista)... não fecham portas, só dão uma encostadinha.

- E as mulheres, como fazem?





quarta-feira, 28 de março de 2018

Pausa para o café

Trocando figurinhas já repetidas, disse a ele dos problemas de dissincronia. Ele constantemente se mostrava irritado por assumir que eu não conseguia manter o ritmo. Particularmente, sempre achei que ele poderia trabalhar melhor suas viradas. Descobriu que eu conseguia - e eu lhe disse para não se esquecer do problema da falta de prática. Já tínhamos tratado sobre a minha inconstância e ele sempre se mostrou no mínimo disposto às novidades, pois o(s) mesmo(s) ritmo(s) pode(m) ser cansativo(s) e entediante(s). Disse algo sobre não ter problema em apostar na coisa certa, aí contive o riso provocado pelo pensamento sobre nossas luas e qualquer outra bobagem arquetípica que viesse ao caso.

Forte e sem açúcar, por favor.


domingo, 18 de março de 2018

Talk about feelings

relief
noun UK ​  /rɪˈliːf/ US ​  /rɪˈliːf/

relief noun (HAPPINESS)


a feeling of happiness that something unpleasant has not happened or has ended.

relief noun (HELP)

food, money, or services that provide help for people in need.

relief noun (RAISED AREA)

a method of raising shapes above a flat surface so that they appear to stand out slightly from it.

specialized art a sculpture made from a flat surface in which the forms are raised above the surface.


Fonte: https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/relief


terça-feira, 6 de março de 2018

Landscape

Remember that time, near the ocean? Remember that passion or that will? Keep that memory in mind. For all purposes. 

Life is
to be felt.

It is not only about the view. You can actually sense goodness [and struggle] miles away. Make your path.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Não deixa o samba morrer

Imagine um sotaque levemente português narrando:

- Vais a desistir das coisas? Vais a ficar sentado, vendo a vida passar, remoendo coisas pequenas? 

- Me falta o impulso.
- Pois se já não é tarde, não tempos tempo a perder! You got one shot - e outras bobagens motivacionais. Bora, porra!



--

Era feira de ciências. Eu não me lembro se era ele ou se era ela, mas havia uma apresentação sobre os três estados físicos da água. Aquela coisa dos estados da matéria, sólido, líquido e gasoso - também chamados de estados de agregação. Ah, tem também o plasma, que não tá nessa memória.

E o que faz ela mudar de estado físico? A temperatura e a pressão, certo?

Muito bem, para se atingir o estado sólido, os átomos ou moléculas ficam bem unidos por conta de forças elétricas intensas agindo sobre eles. Dizem que os átomos que formam essas substâncias possuem uma estrutura cristalina com formato regular, e essa estrutura fica se repetindo. A energia das moléculas é baixa e elas ficam meio que em repouso.

A liquidez envolve forças de ligação menos intensas, o que faz com que as moléculas fiquem mais afastadas umas das outras e movimentem-se mais livremente, o que também significa maior energia. O líquido possui, por isso, essa capacidade de ocupar espaços e preencher volumes.

O estado gasoso conta com praticamente a inexistência de força de ligação entre os átomos, que ficam separados uns dos outros por distâncias maiores do que nos estados sólidos e líquidos. Os gases possuem muita energia e movimentam-se desordenadamente, podendo ser facilmente comprimidos. Também assumem a forma e volume do recipiente em que são colocados.

O plasma se forma quando uma substância no estado gasoso é aquecida até atingir uma temperatura tão elevada que faz com que a agitação térmica molecular supere a energia de ligação que mantém os elétrons em órbita do núcleo do átomo. Os elétrons acabam “soltando-se” e a substância torna-se uma massa disforme, eletricamente neutra e formada por elétrons e núcleos dissociados.

Dizem que o universo se constitui basicamente de plasma - é o estado físico do sol. E por aqui, mais raramente, podemos encontrar o plasma no fogo, nos raios, nas auroras polares e em alguns bens de consumo produzidos. 
O plasma pode conduzir corrente elétrica melhor do que o cobre, fluir como um líquido viscoso e interagir com campos elétricos e magnéticos, diferentemente dos gases.


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Oi. Bom dia - pra quem é de bom dia.


Malandragens à parte, venho aqui retomar o conceito aristotélico de justiça. É um conceito para os homens - é preciso, infelizmente, deixar avisado de antemão. A história, meus caros e minhas caras, não é justa. Então melhor trabalhar logo o conceito natalístico de justiça, não é mesmo?

Repito o escrito de 09 de dezembro de 2014: "Veja bem, meu bem. Ponha-se no seu lugar. Melhor e mais difícil pra você: ponha-se no meu lugar.".

--

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir 

Que a dor não passa

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Satisfeitos? Mais ou menos.



Das promessas que não podemos cumprir, dos desejos para os quais não há gênios ou lâmpadas mágicas e dos argumentos infalíveis que construímos fica o retrogosto do amargo, dos quases otimistas. Qualquer otimismo é sempre traiçoeiro. A doçura se encontra no quase pessimista, o alívio da sorte perante as possibilidades temidas.
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Todas as iscas que mordemos
Os anzóis atravessados
Nossos gritos
Abafados

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Sorria, você está sendo observado e os "ais"

Ai, a modernidade e seus probleminhas.

Sabe aquela sensação de leveza que sentimos ao nos livrarmos das mensagens e do histórico apagado? Pois bem: é difícil aceitar, mas a história não se resolve com a sua edição, revisão ou omissão dos fatos. Duro, né? Pois é. Testemunhos, testemunhas e conseqüências.

Enquanto coletivo, estamos mais ou menos acostumados com a crítica de que a história é contada pelos vencedores, ou, pelo menos, pelos que detém o poder de contar a versão oficial dos fatos. Porém, enquanto indivíduos, parece que essa brincadeira de expôr e esconder coisas sobre quem se é e o que se faz gera uma falsa sensação de poder ignorar 
os seus probleminhas ou agir como se ou atitudes pouco admiráveis não existissem. Conveniente, né?

O quanto que você mesmo se convence da imagem que constrói para os outros e o quanto que realmente consegue se livrar daquilo que omitiu?


Ai, a consciência. Ai, a hermenêutica.

Ah, mas algo não foge aos olhos do observador atento e sensível, não é mesmo? Sua interpretação sobre o mundo coleciona e correlaciona dados históricos observáveis.


Ai, o padrão de comportamento humano: tedioso, previsível e decepcionante.

E a autorreflexão, como que fica? E os sentimentos atrapalhando e direcionando o seu olhar, pretensiosamente frio e analítico? Despersonalize - ela diz, como se fosse um exercício frequente, sentindo-se calejada e amortecida. E não faz a pesquisa, como se desejasse alimentar suas fantasias impossíveis e improváveis.

Ai, chronic dissatisfaction.

domingo, 7 de janeiro de 2018

Agradecida, obrigada não.

Das coisas feias, posso dizer que desgosto bastante da ingratidão. Não saber dar valor ao que te oferecem e fazem por você pode te custar a dor da ausência. E é melhor a ausência do que o destrato - bom lembrar. O limite tá sempre ali, na linha do respeito. Cuidado: a segurança da obrigatoriedade dos laços é uma armadilha demasiadamente vulgar pra ser assumida como desculpa da tua falta de tato com os outros.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

And we do take care of ourselves

Os dias e os anos se passam. Nos reinventamos, individual e coletivamente. A cada versão de nós mesmos nascem e morrem pedaços da vida - pequenos e grandes. Às vezes imperceptíveis, n'outras, sentimos muito. E é próprio da instabilidade da natureza a sorte de estarmos, perecíveis que somos. Muito embora também nos peguem as raízes, a geografia, a história das paisagens e boa parte da nossa força esteja ligada às relações de crescimento que cultivamos.

Que possa haver espaço para permanência assim como para a mudança.