quarta-feira, 29 de julho de 2015

As coisas e os dias - e suas agonias

domingo, 13 de abril de 2008

faça assim, pegue algumas de suas coisas, bobagens que estejam agora mesmo jogadas à sua volta, que façam ou não diferença no momento (podem ser pedaços de papel rabiscados, fotos, pequenos objetos...) e guarde numa caixa ou numa gaveta. deixe-as lá por um bom tempo, não sei quanto, meses, anos; o suficiente para esquecê-las, para que deixem de fazer sentido (se é que um dia já fizeram).
aí redescubra-as, quase que por acaso. toque-as de novo, como se fossem coisas novas, que tragam lembranças, tragam de novo quem você foi (ou quem você pensou que fosse). sinta cócegas nostálgicas, sensação de vazio e pare pra pensar, na metafísica do mundo e naquela tarde deitado na grama.
queime tudo depois, antes de que possa se reacostumar com elas. veja-as pegando fogo, num arrepio impassível e num sorriso masoquista.

Marcadores: as coisas

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domingo, 20 de abril de 2008

Não, realmente hoje não estou para seus caprichos. A noite toda é coisa muito longa (vai até o outro dia) e isso irrita!
Se a cidade pega fogo não é problema meu. A angústia é pelo que há da porta pra dentro. Ainda que pouco...
Não é hora de mudar os Móveis de lugar, mas o barulho que eles fazem me deixa melhor. Ainda que preferisse poder dormir.
Não esquenta. Façamos planos para os dias que não virão. Isso é bom. Me faz ousado e inventivo.
Não poderíamos dormir e deixar pra lá?


“A cidade fede, a cidade engorda, a cidade arrota os ossos do ofício”

(O que poderá ser dito sobre o que eu não disse?)

Marcadores: os dias

carbono e amoníaco

"O que eu escrevi não conta. O que eu desejei é tudo."

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Not much more to say




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Cheaters gonna cheat
Cowards will run and lie
Assholes will be assholes
Every single time


[Time to realize]

domingo, 26 de julho de 2015

Contos e Crônicas: Karma surta

Karma surta:

Ah, mas é moça de muitas qualidades!
O pior defeito: não sabe monetizar os predicados.
Se fodeu e não gozou.

Renata S. Zamboni

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Carta aberta à Ana

Ana, 

Em primeiro lugar, gostaria de pedir desculpas por não ter te respondido. Eu deveria ter feito isso. Na verdade, o que eu precisaria esclarecer pra você envolve outras atitudes que eu deveria ter tomado, mas não tomei. Eu vacilei. Eu entrei em contradição. E você não me conhece o suficiente pra saber o quanto que me pesa admitir e lidar com isso. Relativizei a minha moralidade num momento de fraqueza. Eu me apaixonei. Isso não é, nem de longe, uma justificativa para desrespeitar outro ser humano.

Eu falhei como mulher, me submetendo aos sentimentos por um homem, em primeiro lugar e, em segundo, me permitindo levar adiante um envolvimento completamente fora do lugar. Eu caí na coisa óbvia da história do patriarcado. Logo eu, que odeio ser óbvia, que sempre me propus a não ser refém, a querer transcender e que entendo o feminismo como ação necessária para a igualdade de gênero, dentre outras bandeiras que defendo. Traí a minha própria revolução e traí você, que pouco interagia comigo. Você nunca vai me deixar esquecer disso, mesmo sem me dizer mais nada.

Gostaria de pontuar que eu sou uma pessoa que costuma respeitar os acordos que faço e que os outros fazem. Tenho meus problemas de descrença à instituição tradicional dos relacionamentos - a monogamia, mas isso quer dizer, inclusive, que procuro construir um mundo que possa ser mais honesto quanto ao que se sente e quanto que se quer. Ser honesto, nesse aspecto, envolve auto-conhecimento, racionalização e aceitação, e, por fim, uma tomada de decisão que deve priorizar sempre o respeito pelas pessoas.

A gente não escolhe o que sente, apenas o que faz a respeito disso. Infelizmente às vezes tomamos escolhas erradas e às vezes somos coniventes com decisões erradas tomadas por outras pessoas. Estamos inegavelmente errados toda vez que nos calamos perante situações injustas com alguém. Egocêntricos e escrotos que somos, seres humanos que se permitem ir contra a racionalidade, se deixando dominar por um impulso, por uma idéia sedutora de romance proibido - e como nos estragaram com isso! No final das contas, vale a parceria, vale o companheirismo, a igualdade de tratar o outro como você gostaria e quer ser tratado. 

Como alguém que já esteve num lugar parecido com o seu, gostaria de te dizer: não desmereça o todo pela parte. Não se convença de que você estava errada em todos os momentos em que sentiu o que sentiu, que julgou estar no lugar certo com a pessoa certa. Pondere. Você é capaz de compreender, mas é sempre bom saber até que ponto vale a pena compreender os outros pelo tanto que isso te custa. E tome suas decisões pesando bem as variáveis.

De qualquer forma, espero que você possa ter a mente forte o suficiente para aprender com o erro dos outros. Não para ficar "mais esperta" quanto a com quem se relaciona, não para desacreditar da possibilidade de confiar em alguém, nem mesmo de que o amor não é importante ou não vale a pena pela dor que causa, nem nada do gênero. Mas que você possa ser mais sábia e não se permitir machucar os outros porque achou que poderia entrar numa situação perigosa da qual não conseguiu sair sozinha. Que você possa construir uma parceria com espaço para lidar com esse tipo de coisa de forma aberta e compreensiva, entendendo a relação entre o que se sente o que se faz a respeito disso.

Ainda agindo de forma mais aberta, sei que provoquei dor com as minhas atitudes e com a ordem dos eventos. Mas também sei que estávamos já perto de uma bifurcação e isso, em partes, talvez tenha sido o que permitiu e motivou a intensidade dos sentimentos que condicionaram a coisa toda. Nada é tão simples como parece, todo mundo passa por períodos de auto-questionamento e acaba caindo em contradição, em algum momento da vida, acredito. Acaba esquecendo de quem se é, largando as rédeas do auto-controle, agindo de forma desmedida. A gente aprende com os nossos erros e com os erros dos outros, mas inevitavelmente haverão situações em que até mesmo a coisa que parece mais certa do que qualquer outra coisa, acaba sendo a coisa errada. 

De longe (mas de perto),

N.

domingo, 19 de julho de 2015

Fair play

Sucks.
Wish I could quit the fucking game or, at least, the important rules.


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Convince me that I'm wrong 'cause I'm sick of being right.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sobre perder e continuar (n)a linha

Eu, ponto que sou, por onde passo deixo uma linha.

Essa linha é um trilho, uma sugestão, uma possibilidade de vôo...

Você já brincou de empinar pipa?  Pois bem, se você pega essa linha, se dialoga com o vento, rola uma brincadeira, em que às vezes você puxa, às vezes sente puxar. Talvez você possa se entreter com toda a idéia do vôo controlado. Talvez a projeção, talvez a sensação de controle e liberdade seduza. Sim, de novo o lance da liberdade e da segurança do Bauman, sobre os elementos fundamentais para a felicidade humana. Sobre a pipa: pô, teve um cara ousado aí que resolveu empinar pipa de um jeito meio maluco no século XVIII, tomou um raio na cabeça e descobriu a eletricidade... tudo pode ser e acontecer! Rs.

Às vezes alguém acha legal vir querer cortar sua linha e corre atrás pra pegar no chão, ou sei lá onde a coisa vai cair. É um risco também para quem corta porque nunca se sabe onde a coisa cai. Isso quando o que se quer é roubar a pipa dos outros, mas tem gente que corta a linha dos outros só pra cortar mesmo. Cerol, né? Tem gente que curte uma competição nessa parada de empinar pipa....e o problema nem é a competição, é quem quer dar de esperto com quem nem tá querendo competir, eu acho. Acho que cada um tem que saber a quê se propõe e é legal respeitar a proposta dos outros.

Às vezes a falta de domínio faz com que a linha se enrole em algum lugar, escape à mão de quem está segurando. Ou a distração mesmo. Aquela coisa de quando você tá pegando confiança e dá merda porque ficou confiante demais. Às vezes também você começa brincando de uma coisa, enjoa e logo quer brincar de outra coisa.

Se a linha arrebenta, sendo frágil em sua constituição,
 amarras e outras partes importantes do esquema todo ou apenas insuficiente perante o vendaval inesperado, a coisa toda fica apenas à mercê do vento. E sabe-se lá o que acontece depois disso, pros dois lados do esquema. De que serve uma linha voando sozinha, uma linha enrolada apenas no carretel, uma linha cheia de nós insolúveis, uma pipa rasgada no asfalto, presa e destruída numa árvore? Desencana e vai brincar de outra coisa.

"(...)
Por que insiste em lembrar do vôo
Quando dói o que tombou?"


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Meu lado leste: Lembro que ele me ensinou a fazer e a empinar pipa. Os meninos cortaram minha linha. As meninas não brincavam, no máximo os meninos pediam pra elas consertarem suas pipas. Sabe como é, aquela divisão de gênero imbecil e castradora da infância que a gente chama de machismo. Ele representou: me ensinou, fez presença, correu atrás quando cortaram a minha linha e todas as vezes que deixei escapar quando estava aprendendo. Subiu na árvore, me apresentou pra todo mundo e marcou minha pipa a ser respeitada até que eu pudesse brincar com confiança também.

Engraçado que lembrei dessa postura com a dona Encrenca quando falaram do cabelo dela, no final de semana. O maloqueiro que mora em mim e aparece de vez em quando quer fazer justiça, quer dar sermão, quer ter razão e proceder, quer fazer território e quer proteger, assim como o orixá dele. Chama Xangô. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

"Eu sou a mulher que não deu certo"


Tem coisas que eu não posso esperar que sejam entendidas. Tem coisas que eu não vou conseguir explicar. Nem por teoria feminista, nem por poesia-desabafo, nem pela psicologia, nem pela filosofia. Eu até tento. Apenas sinto muito. Ou sinto muito por não poder sentir nada, entende? A sensibilidade fica esgotada, amortecida pela adrenalina da resistência. Ou me escapa, nos momentos em que me distraio da dura vigília mobilizada para controlar esses impulsos explosivos - If you are focused, you are harder to reach / If you are distracted, you are available

O problema e a dificuldade em se quebrar o ciclo sem me quebrar e fazendo o meu melhor na contenção dos danos. Apelido de infância. E a vida é breve. E louca, sabemos. Acho que as chaves interpretativas não vieram à tempo. E aí eu me culpo pela minha demora, pela minha falta de sagacidade, pela falta de competência do autocontrole, pela falta de capacidade para resolver as equações complexas. Por não saber o ponto de ataque, o ponto de defesa ou o ponto do equilíbrio. Os 3pontinhos estão sempre em perspectiva com os três ponteiros.

Mas, enfim, queria consagrar que aquele lance sobre os mindfucks é honesto.

[Tempo, esse indomável.]

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Talvez a coisa toda já tenha sido devorada antes de ter sido decifrada.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

It's a pantomime and not a play





Fome de mundo bicondicional. Definição: Vontade de dançar, experimentar coisas novas, testar limites. Vontade de aproveitar o tempo. Vontade de discutir filosofia e lógica. E feminismo. Vontade de te convencer só se eu puder ser convencida - acho que não quero mais me convencer de nada. RAW.

Discurso não-performático e pantomímico: Atenção aos sinais metafísicos, especialmente os que aparecem nessa interação do corpo e do mundo. O corpo fala por nós mais do que gostaríamos que ele falasse. Os presentes do universo sempre vêm na hora certa e não é bom fazer desfeita para o que vem de bom grado do mundo.


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Still I know our eyes often meet

I feel tingles down to my feet

when you smile that's much too discrete

sends me on my way