sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Player

Eu era goleira. No jogo com os meninos e com as meninas. E parte disso tem a ver com a educação que meu pai me deu... por ser do esporte, queria treinar a melhor desenvoltura, sem medo. Ele trabalhava com quem tinha dificuldade, queria que todo mundo pudesse jogar. Por ser menina, sempre tentou me envolver. Por ser filha, me ensinou e insistiu que eu aprendesse a me defender. Agradeço muito por esses ensinamentos, me foram de grande valor.

Com os meninos, havia dois cenários: aqueles que tinham pena, por ser menina no gol, e, por conseqüência, "pegavam leve", configurando vantagem para o time que me abraçasse... e aqueles que ficavam putos, por ser menina, e "pegavam pesado", até mesmo pra que eu deixasse de estar ali, melhorando as minhas habilidades até mesmo por subestimar minha capacidade de resistência ou de me deixar intimidar. Nunca tive medo de apanhar, acho que isso é um vício e uma virtude. Dor para mim era familiar. E meu corpo nunca se fez de frágil. Recuperação rápida.

Eu gostava da adrenalina da competição. Por isso no handebol também entrei na linha. No futebol muito pouco porque me faltava realmente a habilidade (ainda me falta). Pois bem. Defesa. Aprendi de muitas formas a me defender e a encarar de frente, esperta, tentando prever e me preparar. Isso te dá algum conhecimento sobre o ser humano e sobre a previsibilidade de suas estratégias também. E o xadrez... o xadrez sempre me ajudou nesse sentido.

O lance é que, na vida, as regras não são claras. Somos juízes de nós mesmos, dos outros e temos que entender sob quais regras estamos sendo submetidos e ao mesmo tempo estamos nos submetendo. Às vezes não aceitamos. Às vezes tentam nos convencer, só para te manterem em campo. Porque você sabe jogar, porque o prêmio na estante é importante, bem como a grana da competição. Só que não quero ser jogadora profissional, quero brincar conforme a minha conveniência. Não quero me associar a nenhum time, não quero assumir identidade... só quero tornar o mundo e a minha vida um lugar mais lúdico, saudável e divertido pra todo mundo. Faz sentido?

Pois bem. Há algo de belo na desenvoltura das capacidades e habilidades do ser humano, mas há algo de escroto e sujo no jogo. Que possamos manter a ilusão da separação entre as coisas e a diplomacia de se jogar pelo esporte. Dos acordos não selados, das expectativas não declaradas, declaro: estou jogando pelo time, mas isso não pode ser encarado de outra forma como senão facultativo e prazeroso para mim. Está fora das mãos do juiz e do técnico a voluntariedade do jogador e sabemos que isso irrita. Irrita porque faz parte do jogo do técnico conduzir pro resultado esperado. Mas só se deixa conduzir quem está convencido de que quer aquele resultado, confia nas técnicas e estratégia que lhe foram apresentadas.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Carta à banda Flicts

Olá! 

Estive presente no Alves ontem, no show de vocês. Não foi o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro show que eu presencio... na verdade eu acompanho a banda há mais de dez anos. E eu estudei no Alves, de 2005-2007, no período em que o Johnny estudou lá, com a turma dos "rosqueiros", como pejorativamente éramos chamados (alguns mais pro punk, outros mais pro metal, mas éramos uma turma, as pessoas tinham banda e foi uma fase em que rolavam muitos festivais em escola também). Essa turma virou grêmio e por 2 anos se dedicou àquela escola defendendo o que a gente acreditava à respeito de uma educação pública de qualidade, fazendo manifestação sim e com nossos ideais políticos já muito aflorados, apesar da juventude. A presença do Johnny era notável no colégio e muitas vezes as ações eram chamadas por ele. Então foi muito simbólico e importante pessoalmente estar naquele lugar, naquela situação.

Não vou parabenizar, pq acho que nem é o caso quando se trata apenas do que considero razoável, mas vou dizer que "gostei de ver" a postura mediante a contestação que foi feita no facebook pela menina Gabriela Macedo, especialmente em comparação ao péssimo discurso que foi feito pelo Ariel no evento. O debate é essencial e autocrítica também, mas falta isso pra quem está preocupado de dar carteirada e apavoro em menina, né? Particularmente tenho uma grande afinidade com o punk rock e desde meus 13 anos já estava colando pra ver show do Cólera, e meu primeiro contato com vocês foi justamente por meio do álbum "Canções de batalha", mais ou menos nessa época também. Pois bem, eu me lembro do contato com a cena straight-edge também nessa época e o quanto que a tal da cena punk apresentava linhas ideológicas diferentes, mas em comum a todas elas uma pegada de machismo pesada no Brasil. Se a sociedade é machista, pq esperar q seria diferente na cena, né? Aquela coisa de não ter nada mais parecido com um machista de direita do que um machista de esquerda. Mas enfim, como muitas meninas, tendi pro lado das riot grrrl, que estética e estilisticamente acabava se diferenciando e nem sempre assumia conteúdos tão diretos e contextualizados como o punk / hc brasileiro.

Particularmente, me afastei (e continuo me afastando) do punk toda vez que sentia que aquilo não era um espaço pra mim e que as idéias / atitudes não me representavam ou até me agrediam. Me afastei pela ausêcia de mulheres como referências, porque eu queria tocar punk rock e ser parte daquilo, mas meus amigos que tinham banda acho que pensavam que eu tinha vocação pra tiete, ou seguradora de jaqueta, por assim, dizer, apesar de ser considera inteligente e ter minha opinião respeitada e considerada quando o assunto era (ou é) política ou filosofia. Isso apesar de nenhum deles saber tocar nada na época muito bem e eu demonstrar o mesmo potencial de aprendizado. Não conheço uma mina que tenha contato com esse circuito que discorde disso e, no entanto, nunca consegui me aliar a elas pra fazer um esforço coletivo de mudança nesse sentido, rs. Mas pessoalmente, nas relações mais imediatas sempre foi inevitável meu posicionamento.

"Muleque machista e misógino
Que leva a namorada pra segurar teu casaco
A cena está cheia de vocês
Não preciso de mais um otário falando o que eu posso ou não fazer
Nem das mina que reproduz a passividade que nos ensinaram a ter
Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede!"
(Banda Anti-corpos, Apoia mútua)


Também não me sentia contemplada, no final das contas, por ser mulher e ter um relacionamento com uma companheira, já em 2004, com letras também de teor machista e homofóbico, como é o caso do juventude maldita (De arma na mão você é macho / 
Mas acho que cê é broxa, um puta cabaço / Bate uma pro sargento,sua vida é um saco / 
passa o dia inteiro dando geral em macho), que era uma banda com certa representatividade no meu circuito. Enfim, aquela coisa de se sentir mais ou menos representado num movimento que é amplo e incorpora setores diversos da sociedade.

De qualquer forma, acho que o ponto aqui é que qualquer um que preze a liberdade, a igualdade e a fraternidade entende que há expressões violentas e que escolhem dispensar a autocrítica e tomar atitudes opressoras, ou revanchistas, ou contraditórias e até mesmo pouco producentes no ponto de vista da aplicação prática dos seus ideais. O punk que me representa é libertário, e não opressor. É inteligente e respeitoso com a diversidade e procura colocar seus ideais em prática nas ações do dia-a-dia, fazendo resistência, mas também dialogando. O punk que me representa procura abraçar e não excluir; procura empoderar ao invés de "colocar no seu lugar"; procura mudar opiniões, mudar a sociedade e as pessoas, inclusive a si próprio. Pode até pecar pelo teor utópico e idealista, mas age no sentido da liberdade, da igualdade, da fraternidade e da justiça. Acho que o Flicts me contempla nessa linha e sigo com a banda na minha vida, rs. Aliás, adoro exibir meus anarcocards pras pessoas. 

Abraço!



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sobre dramas, cenas e contratempos

"O tango é um pensamento triste que se pode dançar."
Discépolo - poeta, compositor, dramaturgo e ator argentino.



Ou escrever.

Eles estão sempre por aí, os pensamentos tristes. É a descrença na doçura unida ao medo da culpa ou da compensação como motivações, serenamente levantadas e analisadas pela perspicácia da mente (mente?).

É a falta de eco, a absorção dos sons sem assimilação e sem retorno, a topada das expectativas, a exposição não degustada, o medo do quase, que escorre e desliza entre tudo aquilo que passou e vai passar. 
É bonito, cardinal e justo. É o esperado não esperado, que quando foi, já não quis. Porque ninguém tá quando quer. É o inevitável assombrando e a luta do controle e do resguardo. Presta-se atenção às coisas importantes.

Apenas o perceptível e o sensível dançando o tango, à meia luz.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Sobre despedidas, covardia, momentos de silêncio e carinho

 1 - Despedidas

Eu confesso que não gosto e evito. Mesmo. Faço de tudo pra que não aconteça. Apego? Pode ser. Mas acho que não curto essa coisa da cerimônia. Acho que não é preciso. E não é preciso por não haver necessidade nem precisão mesmo. A coisa vai se indo embora por si só. De repente o tchau pode ser um até logo e a gente nem sabe. Ou o até logo vira um até nunca mais, who knows. Tem alguma coisa a ver com aquelas linhas que andam em paralelo, mas se cruzam no infinito, alguma coisa a ver com afinidade e as forças de atração e repulsão.

Uma vez ele me disse que gostava dos meus tchaus repentinos. E é muito engraçado como eu pude me perceber pelos seus olhos. De repente me liguei que estava a me reparar mais do que propus a me mostrar. É, lição para a control freak aqui. Sempre atenta às lições; cedo ou tarde eu aprendo. E aprendi. Agradeço mesmo.

2 - Covardia e momentos de silêncio

Não gosto. Mesmo. Nem de ser, nem de conviver com ela. Mas é claro que em alguma dose me percebo nisso. E me dói admitir. A procedência das suspeitas dói também. Apenas uso da territorialidade e do meu poder de decisão sobre o que eu quero e não quero pra mim. É simples e o corpo tá fechado. Nada passa em branco (nunca folha em branco). Ou soma, ou some. Vale o chavão.

Uma outra vez, disse pra outra pessoa: estranhe quando eu me calar. É porque não vale a pena o desgaste da fala, da explicação, da discussão, quando não vejo saída honrosa. É a minha desistência - e eu me considero muito persistente. Até demais. Cabeça dura mesmo. Pois bem. É o que é. Tem quem ache bonito, tem quem ache repulsivo.

3 - Carinho

Aprecio os gestos. Aprendendo a ser doce de novo, devagarzinho. Agradeço a paciência, a dedicação e o tato (alma, mente e corpo abertos). "Eu só posso ter chamego, com quem me faz cafuné", tals. Acho que era disso que eu precisava e por sorte o universo conspirou ao meu favor, em tempo, mais uma vez.




quinta-feira, 12 de novembro de 2015

... e também sobre as baleias!

queria star morto

voltar a ser pó de estrela, sem caminho ou destino
soprando por galáxias distantes onde não há nada além do vazio da existência.

mesmo sabendo que nossas vidas continuariam assim, frágeis e nuas
cruas mas lotadas de adereços inúteis, fantasias descartáveis de um carnaval de plástico,
num paradoxo imaturo de se refinar o que é orgânico por natureza.

porque quando olho e penso no que posso fazer
ah, sei que nada será o suficiente para mudar
o que nos faz chorar e esperar eternamente pela cura prometida.

mas talvez esperar seja um ato de resistência
em um mundo no qual fugas vorazes de falsos fulgores
nos desviam da paciência resiliente e contemplativa.

então assim, meio vivo e meio morto, faltando pedaços
que não posso encontrar em mais ninguém além de mim, eu sigo.
até quando?


Lucca Maziero, 11/11/2015, Facebook.
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Enquanto nos escapam possibilidades e estratégias de mudança, enquanto elas não se mostram factíveis, as idéias, as convicções e as vontades se tornam utopias. Guias, inspirações e todo tipo de sorte inalcançável e motivadora. Falando em cenário de copo meio cheio, claro. No cenário do copo meio vazio está o meio vivo e meio morto, procurando por aqueles pedaços, mas já sabendo que somos todos copos meio cheios e meio vazios que não podem ser completados por outros líquidos que não nós mesmos. Às vezes nos dá sede, às vezes transbordamos. E são duros esses nossos tempos de seca.

A impaciência incita o controle do tempo, como quem diz "é tudo ou nada! agora ou nunca!", mas a sapiência põe a mão no ombro e diz: as suas urgências nada significam na ordem do mundo. E a impotência volta. E todos esses "nadas" além das existências nos enlouquecem. Mas basta um lampejo, efêmero que seja (como não pode deixar de ser), na direção da utopia: é o suficiente para restaurar a "fé" (vou chamar de fé e daria um tag no Pedro se tivesse postado de fato isso como comentário) e fomentar a espera pelo que você designou de cura prometida e o choro vem como um alívio da ansiedade e da tristeza. E às vezes sentimos a necessidade de compensar toda essa agonia, ainda que nem sempre achemos como fazer isso.

Está vivo e ainda é pó de estrela. Viver pode ser a maior das resistências. Querer estar morto é ao mesmo tempo fuga feroz / falso fugor e falta de aceitação de sua própria impotência. É uma pulsão por mudança mal direcionada. É o desejo menor do que o medo da morte. É a crença de um cenário melhor impossível no agora e a descrença no cenário melhor impossível amanhã. No entanto, há algo de desejoso e persuasivo tanto na fragilidade, quanto na força; na nudez e na roupagem; na fantasia e na crueza. E talvez estejamos condicionados à pulsão e à inspiração para vivermos, organicamente falando.

A espera é apenas pela certeza da morte (é destino, mas não precisa ser caminho) e você tem a escolha de esperá-la com a paciência e contemplação de quem aguarda  algo acontecer, como quem aguarda herói salvador da pátria ou com a urgência de quem sabe que há pouco tempo e muito a se construir na direção da utopia, de que é preciso salvar a si mesmo. Com a sapiência de quem organiza seu tempo e preenche com qualidade, entre o cru e o cozido, ainda que no "paradoxo imaturo de se refinar o que é orgânico por natureza". Permanecemos com as nossas baleias.

Somos bons o suficientes para enganarmos a nós mesmos e espertos o suficiente para perceber que já estamos nos enganando.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Traps

The arrogant
The vain
The proud
The smart

The pure
The pervert
The crazy

The needy
The cold
The cool
The strategist
The sensitive
The kind

The brave
The fearful
The honest
The liar
The confused
The accured
The experienced
The creative
The bored
The active
The angry
The scary

The understanding
The careful

The dreamer

[All my head, figuring you out. I wonder which one will get you first.]

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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

"Pode confiar"



Encanto
Harmônico
Fina sintonia
Levemente descompassado pela falta de ensaio
(O suficiente para a prática se tornar desejosa)

Sereno
Suave
Festivo
Fantasia de brincadeira e realiza seriamente
(O ímpeto é criativo e a concretude é sensível)

Cru
Cozido
Sabor
Intenso, conforto, experiência e bom trato
(E estamos partilhando uma brisa boa aí)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

...and time flows on.



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As dores, a raiva, a frustração. No meio disso, o desafio de lidar com os traumas.
A autoafirmação e as tentativas de levantada, de retomada dos pedaços de você mesma que ficaram estilhaçados pela idéia de futuro destruída, pela utopia posta em xeque, pela identidade do presente - que não pode ser a mesma do passado, nem a do futuro, conseqüentemente.

A busca pelas raízes, como ponto de apoio. E o entendimento de que não houve exatamente privação; você sempre esteve no comando, levando o que serve e descartando o que não serve. Priorização, né? Não duvido mais da minha capacidade de julgar o que é importante e urgente. Mesmo identificando o problema do apego. Entendi também que não posso deixar as inseguranças tomarem o espaço das possibilidades de desenvolvimento, de experimentação e de experiência. Cinco segundos de coragem, me disseram. E, ainda que a dominação também seja algo que se desdobre em repulsa, por ser assim, extremamente sedutora, interessante e viciante, não é gostoso se sentir refém. Ainda que seja detestável, do ponto de vista moral, a idéia de se prender alguém, é mais aterrorizador ainda se sentir presa.


O contra-ataque do mundo, exigindo que você seja, que fosse ou tivesse sido, mais forte, mais aberta e mais sábia, mais sagaz. Depois jogando na sua cara que você não pôde ser, ainda que quisesse. Te tirando de fraca, de frouxa, de trouxa. Te convencendo de que o jeito é honrar o fardo - firme, forte e cafajeste. Lidar com a fraqueza e com a necessidade de se colocar como variável mais importante na equação das suas decisões. O incremento dos valores e da conduta, a partir do que é considerado importante e admirável. O contra-peso daquilo que não é.

A mágoa e suas estratégias de defesa, ou de ataque - a luta pela autopreservação.
A racionalidade tentando bater forte vs. a paranóia enlouquecendo e turvando a visão.
O medo e suas barreiras - aquele tipo que pode matar o coração. A culpa. O osso que não se quer largar. As desculpas pra você mesma. A busca pelo conforto, a indefinição dos planos vs. a audácia e a iminência inegável dos desejos. Relutância. As armadilhas psicológicas. Autocontrole e autodominação. Resistência e convicção. Fuga e violência. Se proteger e ter cuidado com o que machuca, provoca, irrita; toca na ferida. Apesar da minha cicatrização ser boa. Apesar de entender que o rancor e a mágoa me afetam e me congestionam, mais do que aquilo ou aqueles que os causaram.

E, por fim, as lições. O encanto do Snoopy. A gente tem sempre o que aprender e o que ensinar pros outros. A ordem do mundo é demasiadamente metafórica, às vezes. Queria contar pra ele que uma das pixações do meu caminho foi apagada. Ainda tem a outra, mas talvez eu não devesse me apegar a ela mesmo. Não entendo porque elas apareceram. Às vezes os enigmas me pegam. Mas, como minha mãe sempre me dizia, tudo a seu tempo. E o que meu pai me dizia serve também, quanto ao momento em que uma porta se fecha, outras acabarem se abrindo. Às vezes o universo nos manda presentes. Às vezes parecem ter vindo sob medida, sob encomenda. 

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Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado

Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão

Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia
Corro os dedos na viola, contemplando a lua cheia
Apesar de tudo, existe uma fonte de água pura

Quem beber daquela água não terá mais amargura

Dança da Solidão - Paulinho da Viola

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Desalinho

Todas aquelas coisas que não foram ditas
Todas aquelas coisas que foram sugeridas e deixadas à livre interpretação
Movidas pela sensibilidade, pelo querer e pelos sentidos combináveis
Todas elas

Na impossibilidade de descartá-las
Soterro em algum canto
Invento, amarro, embrulho, escondo, finjo que não existem
E a coisa ou cresce e me tortura no silêncio
Ou me deixa em paz por um tempo
Ou me mata de ressentimento pela memória
Re-sentimento
Por não poder ou ainda poder ser

Por poder ter sido
Todas as possibilidades do passado e do futuro

Esgotadas no nada do agora

Vou me distrair, pois já é tempo
Meu encanto é de graça e cheio dela
Infelizmente
O preço é sempre muito caro

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E fica a prosa, pois não há poesia que o valha.





sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Pressure drop

A vida se gasta

Tento viver a economia do melhor tempo perante o que entendi como necessidade ou como desejo. Quando digo que quero ou não quero gastar meu tempo - e existe o benefício da escolha - não gostaria que gerasse desentendimentos. Apenas prezo para que possamos passar o melhor tempo, necessária ou desnecessariamente.

Por isso, quando alguém me disser, daqui em diante, que eu não preciso fazer alguma coisa, resolvi que prestarei muita atenção. Desejo estar mais aberta para ouvir isso. A nossa vaidade fica fortemente afetada quando há questionamento sobre as nossas avaliações. E é preciso se dosar a aflição do auto-questionamento e da auto-crítica para que a linha bamba das certezas sobre a qual nos equilibramos não deixe de ser nossa trilha. No entanto, não há situação que não valha a pena de ser revista, ainda que se chegue à mesma conclusão.

Existe algo de muito valoroso no recado da teoria da relatividade sobre a percepção sobre o tempo e o espaço. Podemos resumir em custo-benefício, né? Quanto que me custa e quanto que me beneficia. A curto, médio e longo prazo (o tempo nunca deixa de ser parâmetro). A perspectiva utilitarista do livre-arbítrio combinada com a reciprocidade dos laços não obrigatórios: o quanto que sou e me é útil, o quanto que proporciono e me é prazeroso.


Disse para ela e reitero, para conveniente ou inconveniente divagação: o fato de você querer encher o copo não significa que ele esteja vazio.

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I say, and when it drops, oh you're gonna feel it
Oh, that you were doing wrong

sábado, 5 de setembro de 2015

Muito assunto pra pouco título


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Imagens do filme "Veronika decides to die". Não, não sabia que tinha a ver com Paulo Coelho e provavelmente não teria assistido se soubesse disso, rs. Mas gostei.

Destaque para dois outros diálogos interessantes desse filme:

(1) A conversa sobre se sentir e fazer as coisas com a "alma", em referência a essa cena das imagens. Depois a confusão da personagem, dizendo, primeiro, que não era ela mesma agindo daquela e forma e, em seguida, que talvez tivesse sido mais verdadeiro do que nunca. A outra mulher disse algo sobre pessoas passarem a vida inteira buscando sentir o que ela sentiu e alertando para a existência de mais 1000 momentos como aquele para serem vividos.

(2) A reflexão sobre o desejo substituir o medo. Não peguei muito bem, mas o psiquiatra lá passou um tempo pensando sobre o desejo da morte e chegou a essa conclusão. Teve um outro momento em que ele falou também que o hospício não precisava existir se todos conseguissem concretizar seus sonhos... interessante essa perspectiva, inclusive sobre o suicida.

~ textão

Ao mesmo tempo que falta coragem para fazer alguma coisa a respeito das próprias vontades, sonhos e desejos, falta paixão e amor a quem tem insatisfação, medo ou frustração (é esquisito que eu esteja lembrando da combinação do Mágico de Oz - pessoa perdida, sem cérebro, sem coração e sem coragem?). Ok, né? Quem não sente nenhuma dessas coisas? Outra parte do filme interessante é a personagem tentando argumentar sua ausência de curiosidade e interesse por qualquer pessoa (ou por qualquer outra coisa) num diálogo com uma mulher com quem sai para fumar.

Quando se tem coragem, mas não se tem paixão e amor, perante uma situação de insatisfação, o desejo pela morte pode ser bastante sedutor, porque remete à uma situação de controle também. Ainda que seja o controle para que aquela situação toda deixe de existir. Talvez quando se sinta que não se pode fazer mais nada à respeito de tanta coisa, a única coisa possível de ser feita é a desistência (da vida ou da vivência). 

Nesse sentido, o que pensar sobre a morte do desejo? Uma vez ela me disse que a morte dos sentimentos era sempre algo muito triste. Fiquei com isso na cabeça e obviamente me irritou muito na hora, claro. E muito desse assunto me lembra dela, talvez porque seja seu aniversário, talvez porque tenho pensado em Sandman, Morte e Delírio. Nunca fui de acreditar na morte das coisas, mas mais na transformação (Saca? Aquela coisa da lei do Lavoisier?).

Mas enfim, pensando aqui de forma mais sociológica, o suicídio está ligado à idéia de falta de laços do indivíduo com a sociedade (é provável que eu esteja lembrando de Durkheim). Uma sociedade altamente moralizada e regrada talvez não dê espaço para os que não se encaixam naquele esquema, que ficam marginalizados e sem lugar. Aí temos os loucos e os suicidas (Goffman). E os outsiders (Becker). E os criminosos, que se confundem com todos os anteriores.

Agora é muito curiosa também a perspectiva talvez do tédio, do ato desesperado pela atenção. Sempre pensei nos suicidas como covardes... coragem para desistir, mas sem coragem para tentar mudar o que te incomoda? Esquisito. Parece um caso de energia mal direcionada. E um pouco de arrogância de se pensar que as pessoas ao redor não têm capacidade de entender, que não se pode mostrar fraquezas. Tem a ver também com a cobrança da sociedade para que sejamos felizes (o filme também traz esse argumento).

Aliás as motivações da personagem são muito intrigantes, em diversos momentos. Ela começa a escrever um bilhete suicida tentando redimir a culpa dos pais. Aí desencana e começa a criticar a sociedade e a "mentira" que as pessoas vivem, evidenciando a dificuldade de aceitar as coisas como elas realmente são. Alguma coisa sobre a indústria da moda. Quando o psiquiatra aborda o que ela escreveu ela quase ri, diz que estava muito chapada quando escreveu isso. Curioso. Não aceitar as coisas como elas realmente são, para mim, é uma qualidade que move inclusive a (auto)transformação - a idéia de conformismo e resistência.

E essa cena dos quadrinhos é particularmente interessante.Talvez a melhor ajuda que se possa oferecer, a melhor proposta, o melhor acordo a alguém traumatizado, entediado, ou mesmo desistente, seja um plano. Talvez um plano de fuga ("vamos dar o fora daqui" haha), um plano de vida, talvez algo menos pretensioso e mais imediatamente desejoso, como plano de uma noite, de uma foda, um convite prazeroso, uma proposta pro agora, uma proposta pra depois. Estou dizendo como quem quer dizer: tudo menos a ausência de possibilidades. Talvez isso tenha alguma coisa a ver com a tal da morte dos sentimentos, a ausência de possibilidades.

Gosto dos planos, dos convites, dos projetos e das idéias malucas. Gosto de alma. Gosto de esquisitice. Gosto de quem sobrevive e resiste ao status quo para mudá-lo, não para se conformar. Se somos líquidos, que nenhum envase nos conforme, que nenhuma barragem ou barreira nos prenda ou nos impeça o movimento mais amplo; que possamos transbordar. A vida nem sempre continua, e interrompê-la pode ser uma decisão, que eu particularmente não acho a melhor das decisões e não recomendo. Das esquisitices sobre a psiquê humana, concluo: medo da morte pode ser valioso para promover o desejo pelo melhor aproveitamento do tempo de vida. A minha quero com "alma", por favor.

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“Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse e eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua.”

Simone de Beauvoir

[Talvez esse sejam os votos de felicidade que eu daria, quanto ao aniversário dela, no final das contas.]

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Now you always act so cool




Like you're waiting for your man on Lexington Avenue
And no one is there to hook up for you
So, whose place are you going to?

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"Mas foi bom falar ctg; ruim é o condicionamento das expressões e aquela velha inadequação. 

Bj, até a próxima." 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Easy, Natty Easy...


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Just playing it cool, right?
What do you think about that matter... what was it? Ah, Global warming. Such an important topic to forget about.


...but we know evil by the root.

domingo, 16 de agosto de 2015

Atratores, estados de fase e fractais

Eis que chega a hora da revelação da identidade secreta, né? Rs. A chave interpretativa que se abre quando caímos naquele movimento elíptico e, claro, como a teoria do caos se manifesta, aqui chegamos, retomando até as variáveis ocultas da equação. Não há aleatoriedade nos encontros, somos todos pontos e a evolução do tempo é apenas a função dos parâmetros e variáveis.

Ele me disse que fazemos ciclos de 9 em 9 anos. É, essa conta não está errada não. Deixo as considerações de quem se dedica à minha leitura, por acreditar que bons leitores costumam fazer justiça em suas críticas e análises.

Thétis por fora, simples líquido azedo por dentro.

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Pronta para a próxima fase.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Diálogo imaginário s/n

- E você, está feliz? Está satisfeito? Está se sentindo fazendo a coisa certa? Porque nem sempre essas coisas estão alinhadas.

- Verdade.

- Caso tenha havido um não para qualquer uma dessas pontuações, me pergunto o que eu posso fazer por você e o que você pode fazer por você mesmo.

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Just trying to do the right thing around here. Could you help me, anyway?

domingo, 9 de agosto de 2015

Apesar dos pesares

Foi-se o tempo em que pensar que você fora da minha vida a deixaria mais fácil.
Tento fazer diferente: tento não deixar a mágoa nem o rancor pesarem mais do que o amor.
Mas o fato é que esse tempo existiu.
O fato é que às vezes eu falho nessa missão.
Às vezes eu quero te machucar pra mostrar que a sua dor me causou e me causa dor.
Eu sou parte sua, e isso é esquisito.

Aprendizado.
Com você sempre vieram lições - pela dor ou pelo amor.
E, nesse ponto, a recíproca tem se feito verdadeira.
Espero que um dia você possa me compreender como eu te compreendo.
Agradeço até pela loucura.

Ainda temos tempo.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Tempo, variáveis e significados


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Se está difícil me ler, provavelmente te falta vocabulário. Eu dou todas as letras, me explico até por excesso. Eu não durmo é com a preguiça, com o medo, com a covardia, com o comodismo. Só é feliz quem faz por onde.

Breve desabafo.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

As coisas e os dias - e suas agonias

domingo, 13 de abril de 2008

faça assim, pegue algumas de suas coisas, bobagens que estejam agora mesmo jogadas à sua volta, que façam ou não diferença no momento (podem ser pedaços de papel rabiscados, fotos, pequenos objetos...) e guarde numa caixa ou numa gaveta. deixe-as lá por um bom tempo, não sei quanto, meses, anos; o suficiente para esquecê-las, para que deixem de fazer sentido (se é que um dia já fizeram).
aí redescubra-as, quase que por acaso. toque-as de novo, como se fossem coisas novas, que tragam lembranças, tragam de novo quem você foi (ou quem você pensou que fosse). sinta cócegas nostálgicas, sensação de vazio e pare pra pensar, na metafísica do mundo e naquela tarde deitado na grama.
queime tudo depois, antes de que possa se reacostumar com elas. veja-as pegando fogo, num arrepio impassível e num sorriso masoquista.

Marcadores: as coisas

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domingo, 20 de abril de 2008

Não, realmente hoje não estou para seus caprichos. A noite toda é coisa muito longa (vai até o outro dia) e isso irrita!
Se a cidade pega fogo não é problema meu. A angústia é pelo que há da porta pra dentro. Ainda que pouco...
Não é hora de mudar os Móveis de lugar, mas o barulho que eles fazem me deixa melhor. Ainda que preferisse poder dormir.
Não esquenta. Façamos planos para os dias que não virão. Isso é bom. Me faz ousado e inventivo.
Não poderíamos dormir e deixar pra lá?


“A cidade fede, a cidade engorda, a cidade arrota os ossos do ofício”

(O que poderá ser dito sobre o que eu não disse?)

Marcadores: os dias

carbono e amoníaco

"O que eu escrevi não conta. O que eu desejei é tudo."

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Not much more to say




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Cheaters gonna cheat
Cowards will run and lie
Assholes will be assholes
Every single time


[Time to realize]

domingo, 26 de julho de 2015

Contos e Crônicas: Karma surta

Karma surta:

Ah, mas é moça de muitas qualidades!
O pior defeito: não sabe monetizar os predicados.
Se fodeu e não gozou.

Renata S. Zamboni

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Carta aberta à Ana

Ana, 

Em primeiro lugar, gostaria de pedir desculpas por não ter te respondido. Eu deveria ter feito isso. Na verdade, o que eu precisaria esclarecer pra você envolve outras atitudes que eu deveria ter tomado, mas não tomei. Eu vacilei. Eu entrei em contradição. E você não me conhece o suficiente pra saber o quanto que me pesa admitir e lidar com isso. Relativizei a minha moralidade num momento de fraqueza. Eu me apaixonei. Isso não é, nem de longe, uma justificativa para desrespeitar outro ser humano.

Eu falhei como mulher, me submetendo aos sentimentos por um homem, em primeiro lugar e, em segundo, me permitindo levar adiante um envolvimento completamente fora do lugar. Eu caí na coisa óbvia da história do patriarcado. Logo eu, que odeio ser óbvia, que sempre me propus a não ser refém, a querer transcender e que entendo o feminismo como ação necessária para a igualdade de gênero, dentre outras bandeiras que defendo. Traí a minha própria revolução e traí você, que pouco interagia comigo. Você nunca vai me deixar esquecer disso, mesmo sem me dizer mais nada.

Gostaria de pontuar que eu sou uma pessoa que costuma respeitar os acordos que faço e que os outros fazem. Tenho meus problemas de descrença à instituição tradicional dos relacionamentos - a monogamia, mas isso quer dizer, inclusive, que procuro construir um mundo que possa ser mais honesto quanto ao que se sente e quanto que se quer. Ser honesto, nesse aspecto, envolve auto-conhecimento, racionalização e aceitação, e, por fim, uma tomada de decisão que deve priorizar sempre o respeito pelas pessoas.

A gente não escolhe o que sente, apenas o que faz a respeito disso. Infelizmente às vezes tomamos escolhas erradas e às vezes somos coniventes com decisões erradas tomadas por outras pessoas. Estamos inegavelmente errados toda vez que nos calamos perante situações injustas com alguém. Egocêntricos e escrotos que somos, seres humanos que se permitem ir contra a racionalidade, se deixando dominar por um impulso, por uma idéia sedutora de romance proibido - e como nos estragaram com isso! No final das contas, vale a parceria, vale o companheirismo, a igualdade de tratar o outro como você gostaria e quer ser tratado. 

Como alguém que já esteve num lugar parecido com o seu, gostaria de te dizer: não desmereça o todo pela parte. Não se convença de que você estava errada em todos os momentos em que sentiu o que sentiu, que julgou estar no lugar certo com a pessoa certa. Pondere. Você é capaz de compreender, mas é sempre bom saber até que ponto vale a pena compreender os outros pelo tanto que isso te custa. E tome suas decisões pesando bem as variáveis.

De qualquer forma, espero que você possa ter a mente forte o suficiente para aprender com o erro dos outros. Não para ficar "mais esperta" quanto a com quem se relaciona, não para desacreditar da possibilidade de confiar em alguém, nem mesmo de que o amor não é importante ou não vale a pena pela dor que causa, nem nada do gênero. Mas que você possa ser mais sábia e não se permitir machucar os outros porque achou que poderia entrar numa situação perigosa da qual não conseguiu sair sozinha. Que você possa construir uma parceria com espaço para lidar com esse tipo de coisa de forma aberta e compreensiva, entendendo a relação entre o que se sente o que se faz a respeito disso.

Ainda agindo de forma mais aberta, sei que provoquei dor com as minhas atitudes e com a ordem dos eventos. Mas também sei que estávamos já perto de uma bifurcação e isso, em partes, talvez tenha sido o que permitiu e motivou a intensidade dos sentimentos que condicionaram a coisa toda. Nada é tão simples como parece, todo mundo passa por períodos de auto-questionamento e acaba caindo em contradição, em algum momento da vida, acredito. Acaba esquecendo de quem se é, largando as rédeas do auto-controle, agindo de forma desmedida. A gente aprende com os nossos erros e com os erros dos outros, mas inevitavelmente haverão situações em que até mesmo a coisa que parece mais certa do que qualquer outra coisa, acaba sendo a coisa errada. 

De longe (mas de perto),

N.

domingo, 19 de julho de 2015

Fair play

Sucks.
Wish I could quit the fucking game or, at least, the important rules.


--

Convince me that I'm wrong 'cause I'm sick of being right.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sobre perder e continuar (n)a linha

Eu, ponto que sou, por onde passo deixo uma linha.

Essa linha é um trilho, uma sugestão, uma possibilidade de vôo...

Você já brincou de empinar pipa?  Pois bem, se você pega essa linha, se dialoga com o vento, rola uma brincadeira, em que às vezes você puxa, às vezes sente puxar. Talvez você possa se entreter com toda a idéia do vôo controlado. Talvez a projeção, talvez a sensação de controle e liberdade seduza. Sim, de novo o lance da liberdade e da segurança do Bauman, sobre os elementos fundamentais para a felicidade humana. Sobre a pipa: pô, teve um cara ousado aí que resolveu empinar pipa de um jeito meio maluco no século XVIII, tomou um raio na cabeça e descobriu a eletricidade... tudo pode ser e acontecer! Rs.

Às vezes alguém acha legal vir querer cortar sua linha e corre atrás pra pegar no chão, ou sei lá onde a coisa vai cair. É um risco também para quem corta porque nunca se sabe onde a coisa cai. Isso quando o que se quer é roubar a pipa dos outros, mas tem gente que corta a linha dos outros só pra cortar mesmo. Cerol, né? Tem gente que curte uma competição nessa parada de empinar pipa....e o problema nem é a competição, é quem quer dar de esperto com quem nem tá querendo competir, eu acho. Acho que cada um tem que saber a quê se propõe e é legal respeitar a proposta dos outros.

Às vezes a falta de domínio faz com que a linha se enrole em algum lugar, escape à mão de quem está segurando. Ou a distração mesmo. Aquela coisa de quando você tá pegando confiança e dá merda porque ficou confiante demais. Às vezes também você começa brincando de uma coisa, enjoa e logo quer brincar de outra coisa.

Se a linha arrebenta, sendo frágil em sua constituição,
 amarras e outras partes importantes do esquema todo ou apenas insuficiente perante o vendaval inesperado, a coisa toda fica apenas à mercê do vento. E sabe-se lá o que acontece depois disso, pros dois lados do esquema. De que serve uma linha voando sozinha, uma linha enrolada apenas no carretel, uma linha cheia de nós insolúveis, uma pipa rasgada no asfalto, presa e destruída numa árvore? Desencana e vai brincar de outra coisa.

"(...)
Por que insiste em lembrar do vôo
Quando dói o que tombou?"


--

Meu lado leste: Lembro que ele me ensinou a fazer e a empinar pipa. Os meninos cortaram minha linha. As meninas não brincavam, no máximo os meninos pediam pra elas consertarem suas pipas. Sabe como é, aquela divisão de gênero imbecil e castradora da infância que a gente chama de machismo. Ele representou: me ensinou, fez presença, correu atrás quando cortaram a minha linha e todas as vezes que deixei escapar quando estava aprendendo. Subiu na árvore, me apresentou pra todo mundo e marcou minha pipa a ser respeitada até que eu pudesse brincar com confiança também.

Engraçado que lembrei dessa postura com a dona Encrenca quando falaram do cabelo dela, no final de semana. O maloqueiro que mora em mim e aparece de vez em quando quer fazer justiça, quer dar sermão, quer ter razão e proceder, quer fazer território e quer proteger, assim como o orixá dele. Chama Xangô. 

terça-feira, 7 de julho de 2015

"Eu sou a mulher que não deu certo"


Tem coisas que eu não posso esperar que sejam entendidas. Tem coisas que eu não vou conseguir explicar. Nem por teoria feminista, nem por poesia-desabafo, nem pela psicologia, nem pela filosofia. Eu até tento. Apenas sinto muito. Ou sinto muito por não poder sentir nada, entende? A sensibilidade fica esgotada, amortecida pela adrenalina da resistência. Ou me escapa, nos momentos em que me distraio da dura vigília mobilizada para controlar esses impulsos explosivos - If you are focused, you are harder to reach / If you are distracted, you are available

O problema e a dificuldade em se quebrar o ciclo sem me quebrar e fazendo o meu melhor na contenção dos danos. Apelido de infância. E a vida é breve. E louca, sabemos. Acho que as chaves interpretativas não vieram à tempo. E aí eu me culpo pela minha demora, pela minha falta de sagacidade, pela falta de competência do autocontrole, pela falta de capacidade para resolver as equações complexas. Por não saber o ponto de ataque, o ponto de defesa ou o ponto do equilíbrio. Os 3pontinhos estão sempre em perspectiva com os três ponteiros.

Mas, enfim, queria consagrar que aquele lance sobre os mindfucks é honesto.

[Tempo, esse indomável.]

--

Talvez a coisa toda já tenha sido devorada antes de ter sido decifrada.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

It's a pantomime and not a play





Fome de mundo bicondicional. Definição: Vontade de dançar, experimentar coisas novas, testar limites. Vontade de aproveitar o tempo. Vontade de discutir filosofia e lógica. E feminismo. Vontade de te convencer só se eu puder ser convencida - acho que não quero mais me convencer de nada. RAW.

Discurso não-performático e pantomímico: Atenção aos sinais metafísicos, especialmente os que aparecem nessa interação do corpo e do mundo. O corpo fala por nós mais do que gostaríamos que ele falasse. Os presentes do universo sempre vêm na hora certa e não é bom fazer desfeita para o que vem de bom grado do mundo.


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Still I know our eyes often meet

I feel tingles down to my feet

when you smile that's much too discrete

sends me on my way

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Das definições importantes


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É mais difícil do que parece deixar do jeito em que parece a coisa certa.
Boas escolhas e boa sorte para nós, rs.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

"O que há em você que não veio de mim?"

Da série histórica, lado Alice: os conselhos que eu dou pra mim mesma, raramente escuto e, por isso, tô anotando pra não esquecer! Rs.

0 - MIGA, APENAS PARE COM AS PROJEÇÕES. NÃO CAIA NELA, É SUA MENTE TE PREGANDO PEÇAS! FICA ESPERTA COM ISSO. 

1 - As coisas são como elas têm que ser - e não como gostaríamos que fossem;
2 - Sempre existe um jeito das coisas serem, quando as pessoas querem que assim elas sejam;
3 - As pessoas não são nem podem ser o que esperamos delas;
4 - Isso não quer dizer que nossas expectativas, nossas convicções ou nossos critérios devam ser desconsiderados ou desprezados;
5 - É difícil saber o que se quer, é mais simples saber o que não se quer;
6 - Só você se importa com as bobagens que a sua insegurança te proporcionam;
7 - Bom, se alguém além de você tá se importando com isso, essa pessoa é babaca e apenas a ignore;
8 - Uma boa lista tem pelo menos 10 itens, então vou continuar aqui enrolando na cara dura esse item enquanto penso em mais coisas;
9 - Sim, precisamos combater as regras estúpidas e valorizar as regras importantes;
10 - O mundo é essencialmente mudança - aceita que dói menos.

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Rapidinhas lógicas para simplificar a vida. Para complicar, considerando que a lógica opera para eliminar qualquer elemento problemático ou enigmático que a vida possa trazer, recomendo o vídeo no link a seguir, hehe.

Café Filosófico - para além de pessimismo e otimismo: negação e afirmação em Nietzsche

http://www.cpflcultura.com.br/wp/2008/12/30/para-alem-de-pessimismo-e-otimismo-negacao-e-afirmacao-em-nietzsche/

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Overthinking, over/underfeeling & finding peace


1 - "(...) monogamia não existe, se esforçar nela, é se esforçar em aceitar uma mentira."

É. Acho que poderia me esforçar na monogamia, de qualquer forma, mas isso não daria certo porque não gosto de mentiras. Mesmo aquelas que a gente conta ou sustenta pra não machucar alguém.

Acho que posso ter pensado a respeito do formato do companheirismo, das afinidades que também são importantes, mas... se não dá pra ser honesto e não dá pra compartilhar a mesma visão do amor, acho difícil. Aliás, aquilo que falei sobre as bandeiras é realmente muito importante: alguém que possa compreender e respeitar minhas bandeiras. Acrescentar outras é legal, mas não partilhar das minhas vai ser mais complicado.

Dúvidas honestas: essa linha de idéias tende pro looping do apaixonamento por si mesmo? Será muito restritivo?

2 - "Fácil amar a idéia que criamos do nosso parceiro, verdadeiro é amá-lo por completo".

É, acho que entendi como isso funciona. Não sei em que medida somos responsáveis por manter uma imagem, que, a princípio funciona como sedução, ponto de paixão e em que medida o outro ser humano se apega a isso por desinteresse de abraçar o real por completo. E, assim sendo, nesse segundo ponto, estaria esse ser humano apenas sendo ingênuo em sua concepção de outro ser humano? Ou será que avaliou racionalmente e percebeu de fato que aquele conjunto não lhe interessa?

3 - "Querendo, mentalizamos; mentalizamos, agimos; agindo, atraímos; e atraindo, realizamos." Sinal Verde, Francisco Cândido Xavier

Olha. Eu costumo ficar muito incomodada com o ~papo místico, toda a vibe dos ~namastezinho gente boa, como diria um amigo, haha. O que eu posso dizer é que nem sempre o querer gera uma ação de acordo com ele. E é essa a foda (que não é a gostosa) na real. Agora eu não sei a que regras o maldito querer opera. Acho que ninguém sabe... se as pulsões e a mente humana estivessem completamente desvendadas a Psicologia não seria um campo de saber com tanto destaque e nem com tanta procura.

Então, pra terminar (não que seja essa a conclusão), declaro um objetivo importante, ainda não declarado (aqui): evitar a contradição. Porque isso realmente bagunça a gente e bagunça os outros. Acho que podemos dizer que isso é, em partes, ser honesto com você mesmo, e, portanto, deve trazer algum tipo de paz interior.

--




...porque os punks também amam.

sábado, 6 de junho de 2015

E a vida voltou a me seduzir



So I just dropped in today
To check on all my old obsessions
Everything's the same
Or maybe just a little worse 

...com seus planos e idéias malucas. De um jeito extremamente narcísico, vi uma parte grande de mim em você e isso me impressionou ao mesmo tempo em que me confortou, em alguma medida. Eu havia achado bonito, colocado na caixinha das coisas bonitas, mas, quase que consequentemente, desinteressantes. Não esperava ver pedaços de mim por aí em vínculos esquisitos (quase completamente esquecidos) do passado.

Aliás, universo, você me dá presentes e sempre me lembra da importância e da permanência, ainda que descontínua, de cada vivência, de cada memória construída.



Eu vivo no mundo com medo, do mundo me atropelar
E o mundo por ser redondo, tem por destino embolar
Desde que o mundo é mundo, nunca pensou de parar
E tem hora que até me canso de ver o mundo rodar
Toda vez que dou um passo o mundo sai do lugar


Siba e a fuloresta 

Estamos aí, tentando seguir com as coisas admiráveis e bem construídas, dentro do que acreditamos e inevitavelmente não podemos deixar de expressar. Por mais que me falte fé na aplicabilidade prática pela seqüência das experiências pessoais (rs), ainda me parece inconcebível me adeqüar ao que racionalmente não me convence.


Sim, há algo de freak, de circense, performático e muito egocêntrico nisso tudo. Mas há algo de genuíno e genioso na identificação das formas sem forma, que buscam pontos no plano e fora da reta (ou da curva).

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Ai essas coisas lindas que nunca existirão.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Business talk with Big Boss

Sobre os meus projetos pessoais, mudei o foco dos meus investimentos, visando um retorno mais interessante à curto e médio prazo, né? Você sabe disso.

Mas, pensando a longo prazo, tenho tentado manter um pequeno investimento aí que andou mostrando potencial... apesar de ter me custado, inevitavelmente, uma mudança na captação e uma redução bem criteriosa das atividades que não apresentavam potencial de desenvolvimento.


Do outro lado estão rolando investimentos, é o que o meu feeling e a minha avaliação têm me dito. Existe uma possibilidade de reavaliação do negócio marcada pra setembro, quando poderemos quebrar ou estabelecer novos contratos e esse colaborador aí mostrou interesse em ampliar nossas conexões. Como o mercado tem estado (e ainda está) numa situação complicada e a gente tá falando de investidor ousado (que aparentemente aposta alto em situações pouco prováveis), só quando obtiver um retorno concreto, vai propôr algum tipo de negócio. Mas me parece que têm vingado o lema de fidelização do cliente "servir bem para servir sempre" nessa relação comercial aí.


Então dei uma parada na captação de novos investidores, mas costumo aproveitar as oportunidades que a vida me dá no ritmo dela. Existe uma outra oportunidade de negócio aí que de repente pode me interessar, como um plano B mediante uma eventual crise, mas não foi tão atrativa e não proporcionou tanto retorno quanto essa outra. Aprecio profissionais que projetam fusões interessantes que proporcionem aprendizado pra ambas as partes, que ousam sonhar e não admitem perder o negócio por falta de esforço e dedicação.




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Quanto às parcerias do passado, o que era devido foi corretamente pago, mas me parece que toda vez que uma empresa encara sua própria ineficiência, seja por falta de experiência, por falta de planejamento, falta de segurança ocasionando em falta de ambição, ao invés de aceitá-la, busca acabar com a imagem da empresa parceira que apenas lhe proporcionou oportunidades de negócio que não vingaram. Mas, enfim, o mercado fica de olho nessas coisas e, como diz um chavão do rap que poderia ser lema de responsabilidade social, "cada passo tem valor e peso na sua conduta". Tem que ter proceder.

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O que a gente quer, nesse nosso mundo de negócios, são boas oportunidades de retorno de investimento, melhoria contínua e parcerias honestas.





quinta-feira, 28 de maio de 2015

Three strikes...

... and then you're out of the game. Remember that, won't you, honey? It is a simple and important rule.

If you're lucky and I really like you, I'll tolerate untill the third one.

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- What are you looking for?
- That depends. What do you have?
- That depends. What do you want?

   (The "maybe I got" was implicit).

That is just the way business are, paper-heart-dear. 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Tell me, sis...

“I don't mind the pain, it's the hope that kills me." 
A Long Way Down (2014)

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De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha

Você esconde a mão, diz que é Napoleão
Boa parte de mim, acredita que sim
Se eu converso com ar, no meio do jantar
Você espera a vez dele de falar
Você fala chinês, pela primeira vez
Eu dou opinião, num perfeito alemão
Se eu emito um som que você acha bom
A gente faz um dueto fora do tom

De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha

Você fala chinês, pela primeira vez
Eu dou opinião, num perfeito alemão
Se eu emito um som que você acha bom
A gente faz um dueto fora do tom

De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha
De todos os loucos do mundo eu quis você
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha


De todos os loucos do mundo - Clarice Falcão

[Eu odeio Clarice Falcão, mas você fez ficar irritantemente bonitinha - como não poderia deixar de ser com você.]


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... why are we this screwed up?


Tks for the sugar, the tears and the thoughts.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

É melhor se queimar



Que viver na solidão.

Né?

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A: Se vc quiser, então queira! Mas queria de verdade, com todas as letras (pelo menos para os espectadores) e sem rodeios.
B: Ham... não ponha regras no meu querer!!! Rsrs. 


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Ah, bruta flor do querer.

domingo, 17 de maio de 2015

Keep your paper heart away from me

A: Acho que o guarda-roupa taí pra isso, mesmo. Ser uma grande possibilidade de se fantasiar, etc.

B: Mas são tantas facetas, são tantos estilos, qual deles te representa realmente?

A: Às vezes todos... e às vezes nenhum.

--

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X: Você é boa. Ninguém nunca me deixou assim antes.

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Tanto paninho bonito por aí, né?

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Dos conselhos que eu não te dei

... mas deveria ter te dado:

Saber o que não se quer é o primeiro passo pra moldar o que queremos.

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Por dias mais inspiradores. De luta, ao invés de relutância. Naquele limite muito tênue entre fuga e desapego, entre o que não aceitamos e o que queremos, entre a carência e o carinho, focar numa diretriz: a vida mais leve, sem a ilusão de monopólio de sentimentos ou propriedade sobre seres humanos, sem concessões de cláusulas pétreas da minha própria moralidade, romantizada pelos ideais da revolução francesa; liberdade, igualdade e fraternidade são muito importantes.

O meu controle sobre o mundo começa nas ações em busca do meu próprio equilíbrio. A minha responsabilidade sobre o mundo e sobre os outros não deve nunca ser maior do que sobre mim mesma. O que me cabe, me cabe, o que não me cabe, não está nessa primeira intersecção. Que a vida volte a me seduzir (que eu esteja aberta pra isso), que o gozo dos prazeres honestos se sobreponha à auto-piedade das lágrimas ou do líquido azedo da auto-compensação... que a água flua em mim, sempre, nutrindo o que precisa ser nutrido e despedaçando o que precisa ser decomposto e transformado. Mais sol, mais áreas, mais letras, mais sons. 

Que os tais espaços vazios possam ser apreciados quanto aos vazios que são, pela vista que proporcionam, pelos ares que ali circulam, pela função da permeabilidade que cumprem sobre o território (fundamental), não necessariamente pelo seu potencial de ocupação. Que o passado que tenha valor construtivo, arquitetônico ou histórico possa ser harmonizado com as novas construções. Que a memória não deixe de existir, nem tenha seu peso menosprezado, mas que possa ajudar a construir um futuro passado pela autocrítica e versionado em novas soluções.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Sobre endurecer e perder a ternura

Ia começar a discorrer, mas perdi o tesão. 
What's the point, anyway?


--

Eu sou o problema que você não pode resolver.

E as pessoas permanecem incorrigíveis.





Sem tesão, definitivamente não há solução.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Wrestling people for peace



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She'll eat you alive.

[Inspirações Denisianas, traduções e interpretações Natalísticas].




quarta-feira, 22 de abril de 2015

Global warming is not cool.

Lembrando aqui.

(...) 


A: Well, as coisas são do jeito que têm que ser, né?

B: Acho que a pergunta é: Existe um jeito pras coisas serem?

A: Essa é uma puta de uma pergunta difícil. Você já se respondeu?

B:Sempre.E na maioria das vezes acabo optando pela resposta 'não existe'
mas as vezes aparece um 'sim' como resposta, hahaha.E ae, de boa?

A: É, dei uma assustada com a sua pergunta agora, ehuahuahua. Ocupando meus pensamentos sobre a situação de estar na geladeira =P. E tentando fechar relatório mensal, claro. Hoje fico até às 20hs e caí da cama umas 6hs.

Sobre estar na geladeira

Às vezes eu não sei até que ponto eu devo aceitar passivamente a ordem das coisas e até que ponto eu tenho direito de ficar puta com com elas. Quer dizer, a geladeira pode servir pra conservar, mas dá vontade de gritar "Me consuma ou me jogue fora - meu prazo de validade está para expirar".

Não acho que eu possa fazer isso... aliás, a maior lição pra quem gosta de brincar de conspiração com o universo é entender que as coisas não vão ser sempre como eu quero. As coisas podem dar muito certo ou podem dar muito errado.

"Que eu não mando no querer, aliás é o querer que quer me governar (...)".

É. Duro não mandar no querer. Penso nele como uma criança mimada que só vê seu tempo de prazer. 


"Não há ninguém capaz
de ser isso que você quer
vencer a luta vã
e ser o campeão
Pois se é no não que se descobre de verdade
o que te sobra além das coisas casuais
me diz se assim está em paz
achando que sofrer é amar demais"

Tempos. Não gosto deles. Tenho que lidar com muita merda que, quando eu não tinha tempo, simplesmente não existia, porque não se era possível ver. 

"Que o nó que emperra e barra a vida à vera
É o mesmo que nos ata um ao outro em comunhão"

Minha vontade de ir, sozinha ou acompanhada, não passou. Talvez eu precise ir sozinha, talvez eu só diga isso porque não estou gostando de ficar sozinha. Enfim, o que é que me sobra, além das coisas casuais?

Entre o impasse, o escândalo e a tragédia: geladeira. Talvez impasse. Irritante inércia, hipnótico status quo. Talvez não passe. Aquela voz me dizendo: "Be cool."

B: Acordei as 7 hj não vou conseguir manter a conversa em prosa poética. Você gostaria de elucidar as coisas de forma mais concreta? Ou quer falar sobre outras coisas? ahahha

A: Por favor, tome as rédeas da conversa.

--


"A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa."

Karl Marx MARX, K., Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, 1852.

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Por que o controle remoto sempre some quando a gente quer mudar de canal? Dane-se, não tem nada de bom passando na TV, mesmo.


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Do vício de ser incendiária

Por um instante, pensei em colocar fogo em tudo, novamente. Assumir o controle da porra toda e disposta a transformar matéria em cinzas, sem possibilidade de reversão. A gente sabe bem como funciona essa coisa de triângulo do fogo e reações em cadeia. O álcool é simplesmente um dos combustíveis mais comuns, o oxigênio tá aí e a gente só precisa(ria) de uma fonte de ignição. Razões para queimar, a gente já pode até ter elencado algumas. Mas... not all the sparks will make the fire catch. 

Quer dizer, a gente também sabe bem que o subconsciente às vezes nos ajuda e às vezes nos sabota; a gente só não sabe muito bem até que ponto somos muito trouxas ou muito filhas da puta. 


Sugestão de configuração dos elementos para controlar o risco do incêndio: o álcool a gente bebe e o fósforo a gente usa pra acender um baseado e pensar sobre essa parada de médico e de monstro.

The resistance of a strong willed man's in ashes
You and me are gasoline and matches

[Às vezes é bom pôr a mão no fogo pra lembrar que queima.]

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sobre o lugar da liberdade


1. "The day I died was the day I started to live. In my old life, I longed for someone to see what was special in me. You did, and for that, you'll always be in my heart. But what I really needed was for me to see it. And now I do. You're a good man, Tom. But you live in a world that has no place for someone like me. You see, sometimes I'm good. Oh, I'm very good. But sometimes I'm bad. But only as bad as I wanna be. Freedom is power. To live a life untamed and unafraid is the gift that I've been given, and so my journey begins." Catwoman movie (2004). Last line at the last scene.

Não que eu tenha gostado desse filme (e não que eu fique avaliando filmes de super-heróis ou afins). Mas me surpreendeu o fato do filme ser de 2004 e me vir à mente uma citação dele aleatoriamente numa conversa pensando sobre atitudes disciplinatórias. Pesquisando a citação direitinho, achei esse diálogo bacana também:


Catwoman: You like bad girls?
Tom Lone: Only if they like me back.

2. "Todo o homem tem em si um ditador e um anarquista." Paul Valéry


3. "Anarquia, este sonho de justiça e de amor entre os homens…” Errico Malatesta


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Declaro: aqui pulsa um coração anarquista, que preza pela emancipação humana. O desafio é o caminho dessa construção individual e coletiva. 


Acredito que, entre o ditador e o anarquista está exatamente a medida em que essa "preza" é forçada a alguém que não a deseja - aqui também esbarramos naquele ponto sobre o perigo de se "vender ideologias". A liberdade tem muito mais a ver com uma conquista do que uma concessão (Princesa Isabel libertou os escravos: MY ASS). E, em se tratando de conquista, requere primeiro desejo, depois desígnio, por fim, design (toma forma).

Curiosamente, mas não tão por acaso, essas 3 palavrinhas fazem parte de origem da palavra "desenho". E curiosamente, mas não tão por acaso também, isso me faz lembrar do paradoxo d@ arqueir@, especialmente depois que me chamaram a atenção sobre o arco e a flecha serem elementos encontrados em praticamente todos os povos da antiguidade. O que isso quer dizer, afinal? Me parece pontuar algo intrínseco ao ser humano: a elaboração e o uso de estratégias para atingir objetivos diversos, sejam de defesa, sejam de conquista.


Estou contigo, mulher-gato, na construção de um caminho de liberdade empoderadora (e é claro que isso vindo de uma mulher é muito mais interessante), menos medo e correndo da domesticação... pelo menos naquele sentido em que a domesticação se caracteriza enquanto a prisão, a falta de equilíbrio entre a vida de um tomada pela necessidade de suprir carências do outro. As relações libertárias  podem envolver sim a dominação em termos foucaultianos, desde que busquem valorizar a emancipação mental e física. No fundo, além do anarquista e do ditador, mora um contratualista em mim: se é de total ciência e comum acordo, estão valendo as regras desse jogo.

Sobre aquela utopia, que eu disse que era minha e que eu colocaria onde eu bem entendesse: ela tem muito a ver com o lugar da liberdade na minha vida. Sim, a liberdade é empoderadora... e castradora, ao mesmo tempo. Como já pontuei algumas vezes, acredito que toda liberdade deve ser condicionada para ser aplicável à realidade. Isso quer dizer que só é possível se ser livre dentro de um conjunto de condições. Que liberdade seria essa que me privaria do meu desejo de me prender ou de me soltar?

--

F - "(...) o bonde já passou... não continue no ponto esperando ele passar."

Sempre gostei de andar à pé :).