domingo, 5 de julho de 2020

Pra onde corre esse rio?

Ele disse que

quando você ver

alguém chorando
não pense que pode
não queira fazê-la parar

chorar é liquidificar a dor

dar cor à tristeza que de qualquer maneira
nascerá 
não tente sufocar 
consolar não é dizer "não chore" 
é cavar no chão um leito a caminho do mar

é saber que a lágrima vem

de um lugar, de um tempo muito além
é a força que vem nos visitar
nos lembrar
que nada permanecerá 

o mesmo olho que chora

vê o verde nascendo lá fora
sente a força de uma semente
igual à certeza da gente

e os bichos na beira da água

sei que também sentem mágoa
só não conseguimos ver
pois ninguém os ensinou a esconder

pense na terra, no vento, na raíz

que um abacateiro não conhece país
pense num bicho no meio do mato
sujo e faminto em silêncio
apenas olhando o sol nascer.

--




Então eu disse

Que a minha dor possa ser água 
Que o sonho seja maior que a mágoa
Que eu me encontre em abrigo
Também em você, meu amigo

Olhando por aqueles espaços
Me vi um pouco em pedaços 
E me dói a vista da cidade
(Um pouco da minha idade)

Penso na terra, no vento e nas raízes
E em algumas das cicatrizes
É muita pedra para pouca garoa
Ainda que haja cousa boa

Nem minhas lágrimas 
Permeiam
Nesta terra