quando você ver
alguém chorando
não pense que pode
não queira fazê-la parar
chorar é liquidificar a dor
dar cor à tristeza que de qualquer maneira
nascerá
não tente sufocar
consolar não é dizer "não chore"
é cavar no chão um leito a caminho do mar
é saber que a lágrima vem
de um lugar, de um tempo muito além
é a força que vem nos visitar
nos lembrar
que nada permanecerá
o mesmo olho que chora
vê o verde nascendo lá fora
sente a força de uma semente
igual à certeza da gente
e os bichos na beira da água
sei que também sentem mágoa
só não conseguimos ver
pois ninguém os ensinou a esconder
pense na terra, no vento, na raíz
que um abacateiro não conhece país
pense num bicho no meio do mato
sujo e faminto em silêncio
apenas olhando o sol nascer.
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Então eu disse
Que a minha dor possa ser água
Que a minha dor possa ser água
Que o sonho seja maior que a mágoa
Que eu me encontre em abrigo
Também em você, meu amigo
Olhando por aqueles espaços
Me vi um pouco em pedaços
E me dói a vista da cidade
(Um pouco da minha idade)
Penso na terra, no vento e nas raízes
E em algumas das cicatrizes
É muita pedra para pouca garoa
Ainda que haja cousa boa
Nem minhas lágrimas
Permeiam
Nesta terra