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Imagens do filme "Veronika decides to die". Não, não sabia que tinha a ver com Paulo Coelho e provavelmente não teria assistido se soubesse disso, rs. Mas gostei.
Destaque para dois outros diálogos interessantes desse filme:
(1) A conversa sobre se sentir e fazer as coisas com a "alma", em referência a essa cena das imagens. Depois a confusão da personagem, dizendo, primeiro, que não era ela mesma agindo daquela e forma e, em seguida, que talvez tivesse sido mais verdadeiro do que nunca. A outra mulher disse algo sobre pessoas passarem a vida inteira buscando sentir o que ela sentiu e alertando para a existência de mais 1000 momentos como aquele para serem vividos.
(2) A reflexão sobre o desejo substituir o medo. Não peguei muito bem, mas o psiquiatra lá passou um tempo pensando sobre o desejo da morte e chegou a essa conclusão. Teve um outro momento em que ele falou também que o hospício não precisava existir se todos conseguissem concretizar seus sonhos... interessante essa perspectiva, inclusive sobre o suicida.
~ textão
Ao mesmo tempo que falta coragem para fazer alguma coisa a respeito das próprias vontades, sonhos e desejos, falta paixão e amor a quem tem insatisfação, medo ou frustração (é esquisito que eu esteja lembrando da combinação do Mágico de Oz - pessoa perdida, sem cérebro, sem coração e sem coragem?). Ok, né? Quem não sente nenhuma dessas coisas? Outra parte do filme interessante é a personagem tentando argumentar sua ausência de curiosidade e interesse por qualquer pessoa (ou por qualquer outra coisa) num diálogo com uma mulher com quem sai para fumar.
Quando se tem coragem, mas não se tem paixão e amor, perante uma situação de insatisfação, o desejo pela morte pode ser bastante sedutor, porque remete à uma situação de controle também. Ainda que seja o controle para que aquela situação toda deixe de existir. Talvez quando se sinta que não se pode fazer mais nada à respeito de tanta coisa, a única coisa possível de ser feita é a desistência (da vida ou da vivência).
Nesse sentido, o que pensar sobre a morte do desejo? Uma vez ela me disse que a morte dos sentimentos era sempre algo muito triste. Fiquei com isso na cabeça e obviamente me irritou muito na hora, claro. E muito desse assunto me lembra dela, talvez porque seja seu aniversário, talvez porque tenho pensado em Sandman, Morte e Delírio. Nunca fui de acreditar na morte das coisas, mas mais na transformação (Saca? Aquela coisa da lei do Lavoisier?).
Mas enfim, pensando aqui de forma mais sociológica, o suicídio está ligado à idéia de falta de laços do indivíduo com a sociedade (é provável que eu esteja lembrando de Durkheim). Uma sociedade altamente moralizada e regrada talvez não dê espaço para os que não se encaixam naquele esquema, que ficam marginalizados e sem lugar. Aí temos os loucos e os suicidas (Goffman). E os outsiders (Becker). E os criminosos, que se confundem com todos os anteriores.
Agora é muito curiosa também a perspectiva talvez do tédio, do ato desesperado pela atenção. Sempre pensei nos suicidas como covardes... coragem para desistir, mas sem coragem para tentar mudar o que te incomoda? Esquisito. Parece um caso de energia mal direcionada. E um pouco de arrogância de se pensar que as pessoas ao redor não têm capacidade de entender, que não se pode mostrar fraquezas. Tem a ver também com a cobrança da sociedade para que sejamos felizes (o filme também traz esse argumento).
Aliás as motivações da personagem são muito intrigantes, em diversos momentos. Ela começa a escrever um bilhete suicida tentando redimir a culpa dos pais. Aí desencana e começa a criticar a sociedade e a "mentira" que as pessoas vivem, evidenciando a dificuldade de aceitar as coisas como elas realmente são. Alguma coisa sobre a indústria da moda. Quando o psiquiatra aborda o que ela escreveu ela quase ri, diz que estava muito chapada quando escreveu isso. Curioso. Não aceitar as coisas como elas realmente são, para mim, é uma qualidade que move inclusive a (auto)transformação - a idéia de conformismo e resistência.
E essa cena dos quadrinhos é particularmente interessante.Talvez a melhor ajuda que se possa oferecer, a melhor proposta, o melhor acordo a alguém traumatizado, entediado, ou mesmo desistente, seja um plano. Talvez um plano de fuga ("vamos dar o fora daqui" haha), um plano de vida, talvez algo menos pretensioso e mais imediatamente desejoso, como plano de uma noite, de uma foda, um convite prazeroso, uma proposta pro agora, uma proposta pra depois. Estou dizendo como quem quer dizer: tudo menos a ausência de possibilidades. Talvez isso tenha alguma coisa a ver com a tal da morte dos sentimentos, a ausência de possibilidades.
Gosto dos planos, dos convites, dos projetos e das idéias malucas. Gosto de alma. Gosto de esquisitice. Gosto de quem sobrevive e resiste ao status quo para mudá-lo, não para se conformar. Se somos líquidos, que nenhum envase nos conforme, que nenhuma barragem ou barreira nos prenda ou nos impeça o movimento mais amplo; que possamos transbordar. A vida nem sempre continua, e interrompê-la pode ser uma decisão, que eu particularmente não acho a melhor das decisões e não recomendo. Das esquisitices sobre a psiquê humana, concluo: medo da morte pode ser valioso para promover o desejo pelo melhor aproveitamento do tempo de vida. A minha quero com "alma", por favor.
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“Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse e eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua.”
Simone de Beauvoir
[Talvez esse sejam os votos de felicidade que eu daria, quanto ao aniversário dela, no final das contas.]