terça-feira, 13 de outubro de 2015

...and time flows on.



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As dores, a raiva, a frustração. No meio disso, o desafio de lidar com os traumas.
A autoafirmação e as tentativas de levantada, de retomada dos pedaços de você mesma que ficaram estilhaçados pela idéia de futuro destruída, pela utopia posta em xeque, pela identidade do presente - que não pode ser a mesma do passado, nem a do futuro, conseqüentemente.

A busca pelas raízes, como ponto de apoio. E o entendimento de que não houve exatamente privação; você sempre esteve no comando, levando o que serve e descartando o que não serve. Priorização, né? Não duvido mais da minha capacidade de julgar o que é importante e urgente. Mesmo identificando o problema do apego. Entendi também que não posso deixar as inseguranças tomarem o espaço das possibilidades de desenvolvimento, de experimentação e de experiência. Cinco segundos de coragem, me disseram. E, ainda que a dominação também seja algo que se desdobre em repulsa, por ser assim, extremamente sedutora, interessante e viciante, não é gostoso se sentir refém. Ainda que seja detestável, do ponto de vista moral, a idéia de se prender alguém, é mais aterrorizador ainda se sentir presa.


O contra-ataque do mundo, exigindo que você seja, que fosse ou tivesse sido, mais forte, mais aberta e mais sábia, mais sagaz. Depois jogando na sua cara que você não pôde ser, ainda que quisesse. Te tirando de fraca, de frouxa, de trouxa. Te convencendo de que o jeito é honrar o fardo - firme, forte e cafajeste. Lidar com a fraqueza e com a necessidade de se colocar como variável mais importante na equação das suas decisões. O incremento dos valores e da conduta, a partir do que é considerado importante e admirável. O contra-peso daquilo que não é.

A mágoa e suas estratégias de defesa, ou de ataque - a luta pela autopreservação.
A racionalidade tentando bater forte vs. a paranóia enlouquecendo e turvando a visão.
O medo e suas barreiras - aquele tipo que pode matar o coração. A culpa. O osso que não se quer largar. As desculpas pra você mesma. A busca pelo conforto, a indefinição dos planos vs. a audácia e a iminência inegável dos desejos. Relutância. As armadilhas psicológicas. Autocontrole e autodominação. Resistência e convicção. Fuga e violência. Se proteger e ter cuidado com o que machuca, provoca, irrita; toca na ferida. Apesar da minha cicatrização ser boa. Apesar de entender que o rancor e a mágoa me afetam e me congestionam, mais do que aquilo ou aqueles que os causaram.

E, por fim, as lições. O encanto do Snoopy. A gente tem sempre o que aprender e o que ensinar pros outros. A ordem do mundo é demasiadamente metafórica, às vezes. Queria contar pra ele que uma das pixações do meu caminho foi apagada. Ainda tem a outra, mas talvez eu não devesse me apegar a ela mesmo. Não entendo porque elas apareceram. Às vezes os enigmas me pegam. Mas, como minha mãe sempre me dizia, tudo a seu tempo. E o que meu pai me dizia serve também, quanto ao momento em que uma porta se fecha, outras acabarem se abrindo. Às vezes o universo nos manda presentes. Às vezes parecem ter vindo sob medida, sob encomenda. 

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Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado
Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado

Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão

Quando vem a madrugada, meu pensamento vagueia
Corro os dedos na viola, contemplando a lua cheia
Apesar de tudo, existe uma fonte de água pura

Quem beber daquela água não terá mais amargura

Dança da Solidão - Paulinho da Viola

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