Também andei conversando sobre o quanto que deixamos de viver de acordo com o que acreditamos, como isso pode ser engrandecedor e que a recompensa mais óbvia pode ser apenas o prazer do desfrute imediato, a satisfação dos meios pelos quais os fins chegaram.
Não acredito que esse caminho se afaste do outro, sabe? O original pensar sobre o futuro e uma projeção de si mesmo no tempo, com o peso da ética, da segurança de construirmos e viabilizarmos formas de sermos que queremos ser. Sabemos o valor do tempo, não sabemos? Especialmente de seu desperdício.
Nesse sentido, qual o espaço para os planos? Aqueles que brincam de forma muito íntima com nossos sonhos? Por que condicionar os sonhos ao campo da fantasia e do imaginário quando podemos trazê-los para a prática efetiva e fazer de nós mesmos donos mais satisfeitos dos nossos sonhos, planos e prazeres?
Uma vez ela me disse, com certo ar de sapiência sagitariana-espírito-livre, que de nada adiantava fazer planos porque a vida vinha e mudava tudo. Ouvi pensando que não, que os planos são importantes, sim. Pessoalmente, me motivam. Acho que se apegar muito a eles pode sim gerar essa sensação de "castelo de cartas" e acho mesmo que existe algo de muito sábio em entender o movimento das mudanças, tendo flexibilidade para não perder muito tempo sofrendo com as impossibilidades.
"Talvez a melhor ajuda que se possa oferecer, a melhor proposta, o melhor acordo a alguém traumatizado, entediado, ou mesmo desistente, seja um plano. Talvez um plano de fuga ("vamos dar o fora daqui" haha), um plano de vida, talvez algo menos pretensioso e mais imediatamente desejoso, como plano de uma noite, de uma foda, um convite prazeroso, uma proposta pro agora, uma proposta pra depois. Estou dizendo como quem quer dizer: tudo menos a ausência de possibilidades. Talvez isso tenha alguma coisa a ver com a tal da morte dos sentimentos, a ausência de possibilidades."
sábado, 5 de setembro de 2015
A impossibilidade é algo muito difícil de ser admitido. Parecemos crianças mimadas que não aceitamos "não's" da vida. Ao mesmo tempo, é importante e admirável a persistência e a disciplina, a ousadia de se tentar ser, criar, transformar.
Daí que ele achou Guy Debord confuso. É mesmo, um pouco.
Daí que ele achou Guy Debord confuso. É mesmo, um pouco.
Você sabe "o tesão tem razões que o próprio tesão desconhece". E o lance do fetiche, assim como o fetiche da mercadoria, é que ele está ligado e se manifesta em relação ao quão inatingível e distante do ser (perante ao qual o objeto de fetiche se coloca). É uma espécie de resposta de fuga ou repúdio da realidade. Pode ser uma pessoa, um estilo de vida, uma idéia, uma coisa qualquer. Uma COISA qualquer. Acho que vale ressaltar esse aspecto da objetificação, novamente.
Vou deixar uns excertos por aqui, porque considero o que conheci das idéias do Debord importantes, apesar de confusas:
Vou deixar uns excertos por aqui, porque considero o que conheci das idéias do Debord importantes, apesar de confusas:
"O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois o seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e face ao seu produto global."
"O espetáculo é uma permanente guerra do ópio para fazer aceitar a identificação dos bens às mercadorias; e da satisfação à sobrevivência, aumentando segundo as suas próprias leis. Mas se a sobrevivência consumível é algo que deve aumentar sempre, é porque ela não cessa de conter a privação. Se não há nenhum além para a sobrevivência aumentada, nenhum ponto onde ela poderia cessar o seu crescimento, é porque ela própria não está para além da privação, mas é sim a privação tornada mais rica."
"O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato de todas as mercadorias. Mas se o dinheiro dominou a sociedade enquanto representação da equivalência central, isto é, do carácter permutável dos bens múltiplos cujo uso permanecia incomparável, o espetáculo e o seu complemento moderno desenvolvido, onde a totalidade do mundo mercantil aparece em bloco como uma equivalência geral ao que o conjunto da sociedade pode ser e fazer. O espetáculo é o dinheiro que se olha somente, pois nele é já a totalidade do uso que se trocou com a totalidade da representação abstrata. O espetáculo não é somente o servidor do pseudo-uso. é já, em si próprio, o pseudo-uso da vida."
"A consciência do desejo e o desejo da consciência são identicamente este projeto que, sob a sua forma negativa, quer a abolição das classes, isto é, a posse direta pelos trabalhadores de todos os momentos da sua atividade. O seu contrário é a sociedade do espetáculo onde a mercadoria se contempla a si mesma num mundo que ela criou."
Guy Debord, A Sociedade do Espectáculo - Capitulo II
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Dica para melhor aproveitamento dos textos: se a palavra "trabalhador" incomoda seja porque faz alusão à sociedade do trabalho e da produtividade, seja porque está "fora de moda", substitua mentalmente apenas por "pessoas". No final, é o comportamento humano que interessa aqui.
Dica para melhor aproveitamento dos textos: se a palavra "trabalhador" incomoda seja porque faz alusão à sociedade do trabalho e da produtividade, seja porque está "fora de moda", substitua mentalmente apenas por "pessoas". No final, é o comportamento humano que interessa aqui.