Os vasos e as plantas constituem boas metáforas a respeito do comportamento humano. E há matéria que se condicione de verdade, pensando nos bonsais ou em corpos alterados por insistência de confinamento constante. Somos adaptáveis e buscamos alternativas. Até o ponto em que a vida não é mais possível. E o tempo ou as condições disso são muito variáveis.
A natureza é boa para nos contar sobre renovação, sobre ciclos, relações entre espécies e com o meio. Ela é o meio, ou a somatória de seus elementos. Enfim, mas os vasos... eles são micro-reproduções. Aí quando a planta fica sufocada, é preciso oxigená-la e você teme matá-la por completo, na tentativa disso. É complicado, porque não deixa de me ocorrer que você está fazendo um exercício de ok, criar uma vida e cuidar dela, proporcionando sua existência, mas, ao mesmo tempo, limitando seu potencial de liberdade. Maluco.
As gavetas, apesar de serem espaços de confinamento também, elas conservam e armazenam. As coisas sem vida, claro. Veja, o problema das coisas conservadas é que elas estão ali, disponíveis. Você até esquece que as coisas estão ali, mas se você não mexeu, se ninguém mexeu, elas ainda permanecem. A ação do bolor e do pó pode nos dar alguma dica sobre o tempo já demasiadamente passado. E o que dizer sobre fungos e outros bichos mais, daqueles escrotos, indesejáveis, que da coisa sem vida esquecida, criam vida ali?
Não sei. Me veio à cabeça a imagem de ruínas, sabe? Sei lá. Algo de belo, algo de triste, no caso das ruínas. No caso das gavetas, somente ocupação de espaço além do necessário. Coloquei de volta na gaveta no automático. Falta atitude para se livras das coisas, né? Eu sei. É ridículo uma mulher desse tamanho com medo do que tem dentro do armário.
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Cruzei com ela na cervejaria, por acaso. Falou coisas interessantes, percebi afinidade, retomei a idéia de que poderia me apaixonar por ela. Ela me perguntou, sobre o passado: "Passou, né?".
Titubeei e disse que sim. Mas entendi que uma hora ou outra passaria.
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