sábado, 13 de setembro de 2014

Sobre mudanças, família, raízes e rituais sociais

>> Quem somos, de onde viemos e pra onde vamos?

Ah, as perguntas que se desdobram dos momentos difíceis. Já que esse é meu espaço particular de devaneio e não vou incomodar ninguém fazendo isso, vou seguir o post sem rigor acadêmico e sem ordenação cronológica.


Em algum momento de minha breve vida, já privilegiada pelo uso da internet, adquiri o hábito de procurar algumas coisas das quais ouvia falar e me lembrava de pesquisar depois. Coisas aleatórias, que vinham à mente sem muita regra, mas normalmente me proporcionavam boas horas de distração. Sabe aquela sensação de estar debaixo d'água? Às vezes procuro ela. 


Enfim, um dia estava (não me pergunte o porquê) curiosa sobre filosofia e queria saber sobre uma categoria de pensadores chamados "pré-socráticos". Aí tinha um cara (que parece que cheguei no nome dele por meio do que o Platão falou dele) chamado Heráclito (1). Nunca me esqueci de uma idéia sobre não ser possível se banhar duas vezes na mesma água, ainda que se voltasse ao mesmo rio. Para mim, foi algo sobre como o indivíduo pode lidar com as mudanças (constantes e motivadas por diversos fatores; tudo flui) do mundo.


Pois bem. Entendo o mundo dessa forma mesmo, tendo a mudança como essência. É meio maluco, porque às vezes as mudanças são súbitas e bruscas, noutras são lentas e sutis. O tempo acaba fazendo toda a diferença sobre como podemos ser afetados e a intensidade com que somos afetados. E o mundo (e por "mundo" entendo que nós também fazemos parte dele) muda independentemente da nossa vontade, das nossas previsões e resguardos; ele simplesmente muda e quando nos damos conta temos que "dançar conforme a música".


"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Lei de Lavoisier, sobre a conservação das massas.


Aí é que está. Se tudo se transforma, porque a sensação de que perdemos algo? Sobre a vontade (ou, ainda, necessidade) de criar, me vem à cabeça um desejo de dominar o mundo, deixar marcas, personalizar. Ser criador; interagir e interferir. Parece ser a ilusão de que nós estamos no controle, moldando o mundo ao nosso gosto. Já lidar com as "perdas" é como se o mundo nos mostrasse que não temos controle de absolutamente nada e que nossa permanência é temporária, aleatória e fluída. Sobre a transformação do mundo e de nós mesmos, constantemente me pergunto: qual a nossa relevância?


"(...) as células do corpo são substituídas, em grande parte, de 7 a 10 anos, sucessivamente. Em outras palavras, as células velhas morrem na maior parte e são substituídos por novas durante este intervalo de tempo. O processo de renovação celular ocorre mais rapidamente em certas partes do corpo.

Isso explica, por exemplo, por que as unhas crescem e nosso cabelo cai. Mas, se estamos constantemente abastecidos por novas células, por que envelhecemos? Quando se trata de envelhecimento, parece que o segredo não está nas nossas células, e sim, no DNA celular.
De acordo com Frisen, é possível que o DNA sofra muitas mutações ao longo desse processo de renovação celular, enquanto outras células "nunca" nos deixam, auxiliando nesse processo de envelhecimento e outros males, como os neurônios que compõem o córtex cerebral - embora existam pesquisas que apontem que os neurônios se renovem, mas em uma velocidade muito baixa e em pouca quantidade. Essa área é responsável por comandar funções relacionadas com a memória, linguagem, pensamentos e consciência e não são renovadas nessa troca." (2)
O nosso próprio corpo está em constante mudança... diariamente sofremos perdas e renovações que, no geral, nem nos damos conta. Tem a parte que muda e a parte que não muda, ao que tudo indica. Células ou DNA que "nunca nos deixam" me fazem pensar no que carregamos conosco, no que nos constitui não só do ponto de vista da biologia, mas psicológica e socialmente. São traços de personalidade enraizados, convicções fortes e o que aprendemos com nossas famílias.

Aceitação do mundo e de nós mesmos. E não aceitação do mundo e nem de nós mesmos. O que queremos que permaneça que podemos manter e o que queremos que mude que nos cabe agir?


No meio disso estão as convenções e os rituais sociais. Ninguém tem a capacidade de ir contra absolutamente tudo, penso eu. No que diz respeito ao "para onde vamos", precisamos considerar "quem somos" e "de onde viemos". Até onde a nossa liberdade está condicionada? Até onde temos condições de sermos livres? Fico pensando naquele conselho: "seja a mudança que você quer ver no mundo". Entre o que eu quero, o que eu posso e no que eu acredito, existe um mundo de transformações e permanências, tempos e movimentos, criações e perdas.



(1) http://www.mundodosfilosofos.com.br/heraclito.htm

(2) http://www.jornalciencia.com/saude/corpo/4247-todas-as-celulas-do-corpo-humano-se-renovam-completamente-a-cada-7-anos-mito-ou-verdade

2 comentários:

  1. 1) o som e a fúria ganhando contornos ontológicos aqui...
    2) engraçado a gente tentar lutar essas batalhas de palavras e conceitos... é como se tentássemos nos erguer pelos próprios cabelos.
    3) não consigo deixar de pensar que com um pouco de habilidade e com a quantidade de certas de palavras conseguimos nos convercer de qualquer coisa.

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    1. 1) Quando não estiveram com contornos ontológicos?
      2) Pensei em "ouroboros" quando você disse isso, rs. Legal.
      3) O mais legal é pensar que conseguimos convencer os outros também de qualquer coisa =P.

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